Pré-escola: Exclusão atinge principalmente crianças pretas, pobres e filhas de mães jovens e de baixa escolaridade, diz estudo

Pré-escola: Exclusão atinge principalmente crianças pretas, pobres e filhas de mães jovens e de baixa escolaridade, diz estudo

Pesquisa traça perfil socioeconômico das crianças com menos acesso à primeira etapa da educação básica e alerta para a urgência de fazer a busca ativa escolar

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Tempo de leitura: 6 minutos

Foto em destaque: Elza Fiuza/Agência Brasil. Com informações da assessoria de comunicação

Com a volta às aulas em todo o Brasil neste início de fevereiro e, embora a pré-escola seja obrigatória no País a partir dos 4 anos, há mais de 330 mil crianãs de 4 a 6 anos longe da pré-escola – a maioria delas pretas, pobres e filhas de mães jovens e de baixa escolaridade. Essa exclusão se intensificou nos últimos anos, com a pandemia.

É o que revela a pesquisa “Desigualdades na garantia do direito à pré-escola”, lançada pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME). Clique aqui para acessar.

O estudo mostra que o Brasil vinha avançando lentamente no acesso à pré-escola nas últimas décadas. Em 2019, 94,1% das crianças brasileiras frequentavam a pré-escola, deixando 5,9% fora dela. O objetivo era universalizar essa etapa até 2016 pelo Plano Nacional de Educação (PNE).

Com a pandemia da covid-19, o cenário se inverteu. Embora não haja dados consolidados para os últimos anos, uma análise das taxas de matrícula durante a pandemia, revela que ocorreu apenas em 2021 uma queda de 275 mil matrículas na pré-escola.

Além de mostrar que todas essas crianças não estão tendo o seu direito assegurado, a pesquisa traz outro alerta importante: crianças pretas, pobres e filhas de mães jovens e de baixa escolaridade são as que têm maior risco de não frequentar a pré-escola. Há também desigualdades regionais, estaduais e entre crianças do campo e das cidades.

Mudar esse cenário é urgente e demanda ações concretas, voltadas ao enfrentamento da exclusão escolar. Sabendo que a Educação Infantil é ofertada, prioritariamente, nas redes municipais de ensino, a pesquisa recomenda aos gestores municipais:

– Planejar a expansão de vagas, com especial atenção aos públicos mais vulneráveis identificados neste estudo;

– Identificar e localizar as crianças que não estão matriculadas na pré-escola, utilizando estratégias como a Busca Ativa Escolar;

– Sensibilizar as famílias para a importância da Educação Infantil;

– Articular ações intersetoriais, integrando saúde, assistência social e educação para a promoção do direito à pré-escola às crianças;

– Contribuir para a efetivação do regime de colaboração, conhecendo quais programas e políticas federais e do seu estado estão ativos para a Educação Infantil e em quais seu município pode ser participante, além de demandar destes entes uma maior participação no regime.

Raça, renda e características maternas

Segundo os dados, no Brasil de 2019, a frequência escolar de crianças pretas, pardas e indígenas era menor (91,9%) que a de crianças brancas ou amarelas (93,5%). Ao olhar apenas para a desigualdade entre crianças brancas e pretas com o recorte regional, a região Centro-Oeste apresentou a maior desigualdade racial, com diferença de quase nove pontos percentuais entre crianças brancas e pretas: 89,4% contra 80,6%.

Em relação à renda das famílias das crianças fora da pré-escola no Brasil, enquanto a taxa de frequência das crianças em situação de pobreza era de 92% em 2019, a de crianças que não estavam nesta situação era de 94,8%.

“Crianças pretas e pobres são, historicamente, mais vulnerabilizadas no Brasil e essa desigualdade no acesso à educação infantil privilegia alguns grupos em detrimento de outros, afinal as crianças que não frequentam a pré-escola têm menos acesso a estímulos, interações, alimentação e segurança. Isso pode comprometer o desenvolvimento, impactar a progressão e a transição para as etapas de ensino sequentes, além de reproduzir desigualdades que atrasam o nosso país”, explica Maíra Souza, Oficial de Primeira Infância do UNICEF no Brasil.

O estudo também analisou as características maternas e como isso interfere na frequência escolar das crianças. Os resultados indicam que crianças de mães mais jovens, menos escolarizadas e com trabalhos informais têm menores taxas de frequência escolar.

As análises da pesquisa revelam que a escolaridade da mãe é o recorte que apresenta a maior desigualdade entre um grupo e outro de crianças entre as regiões. Em 2019, a taxa de frequência de crianças cujas mães não possuíam ensino fundamental completo era de 91,1% contra 95,3% daquelas que possuíam.

Segundo o estudo, as crianças cujas mães tinham menos de 20 anos de idade na data de nascimento de seus filhos (92,3%) frequentavam menos a pré-escola em 2019, resultado inferior em comparação às demais crianças, cujas mães tinham mais de 20 anos: 94,4%.

Por fim, o último recorte materno analisado é a ocupação das mães. Segundo o estudo, crianças filhas e filhos de mães com trabalhos informais frequentam menos a pré-escola que aquelas cujas mães têm ocupação formal. Em 2019, os números eram de 95% e 96,6%, respectivamente.

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