Dia da Amamentação: Estado precisa investir em políticas públicas para estimular aleitamento humano

Dia da Amamentação: Estado precisa investir em políticas públicas para estimular aleitamento humano

Neste Dia Mundial da Amamentação (1/8), publicamos um artigo escrito pela obstetriz Bruna Alves e pela enfermeira Ioná de Souza, profissionais da Casa Angela - Centro de Parto Humanizado localizado no Jardim Monte Azul, periferia da zona Sul de São Paulo

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Tempo de leitura: 5 minutos

Por Bruna Alves e Ioná de Souza*, em artigo de opinião para a Periferia em Movimento

Desde a década de 1980, o país vem desenvolvendo ações de incentivo ao aleitamento humano. Hoje, há inúmeras evidências científicas dos seus benefícios e a cada ano, o número de profissionais especialistas em amamentação aumenta.

O leite humano é um alimento fundamental para o desenvolvimento cognitivo dos bebês e tem influência direta na saúde dos indivíduos. O impacto na saúde pública é relevante. Crianças em aleitamento têm menos chances de desenvolver doenças respiratórias, alergias e diarreia, o que resulta em menor índice de internação hospitalar e redução da taxa de morbimortalidade infantil. Os benefícios da amamentação extrapolam a infância, mitigando, no adulto, a probabilidade de obesidade, hipertensão arterial e síndrome metabólica.

Ainda que, para muitas, seja desafiador amamentar, há recompensas, pois os ganhos da prática se estendem a quem amamenta. Amamentar previne o câncer de mama, ovários, diabetes tipo 2; reduz episódios de enxaqueca em mulheres com queixas anteriores à gestação e o risco de anemia no pós-parto.

Observando o tema pelo viés sócio-econômico-ambiental, a amamentação de bebês até os 6 meses de vida evitaria gastos mundiais na ordem de 1 bilhão de dólares ao ano, segundo a pesquisa “O Custo de não Amamentar” que reúne dados de mais de 100 países; além de colaborar com a diminuição da violência na infância, uma vez que fortalece os vínculos familiares. No Brasil, em regiões mais desenvolvidas, o padrão de aleitamento é semelhante ao dos países desenvolvidos, ou seja, mulheres com maior grau de instrução e com melhor nível socioeconômico amamentam por mais tempo.

Mesmo com tantos benefícios já conhecidos e comprovados, os dados preliminares do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) do Ministério da Saúde de 2020 demonstram o potencial latente no Brasil para avanço nas políticas públicas de incentivo à amamentação, pois entre as crianças menores de 6meses o índice de amamentação exclusiva é de apenas 45,7%. 

Ainda que amamentar seja fisiológico, muitas mães apresentam dificuldades no processo e necessitam de apoio e condução profissional para os ajustes necessários. Para viabilizar a amamentação não é necessária tecnologia avançada, ou despender de estrutura sofisticada. O primordial são profissionais capacitados e atualizados para dar informação de qualidade, bem como alinhados as atuais recomendações científicas.

Ainda no pré-natal, as consultas devem ser aproveitadas para o fornecimento de informações sobre amamentação e o fortalecimento da rede de apoio da puérpera. No puerpério, a ajuda profissional qualificada deve ser disponibilizada tão logo os problemas ocorram.

 É necessária, muitas vezes, avaliar e ajustar a pega do bebê, auxiliar quem amamenta a ter mais segurança em posicionar o recém-nascido, verificar a produção de leite, entre outras avaliações que parecem simples, mas têm um grande potencial em auxiliar o binômio, nesse período delicado, em que todos estão aprendendo.  

Na maioria das vezes, as orientações feita por uma consultora de amamentação, sobre pega correta do recém-nascido e posição no seio, associada ao reforço positivo, ou seja, reafirmar que mãe e bebê estão no caminho certo, traz segurança à família e são suficientes para aumentar a confiança no processo, colaborando para o sucesso da amamentação. Outras vezes, há necessidade de intervenção de equipe multidisciplinar, envolvendo fonoaudiólogo, odontopediatra, pediatra, entre outros.

O importante é que exista auxílio em tempo hábil, já que a maior queixa das mães com dificuldade na amamentação é a dor, que associada à adaptação com recém-nascido, privação de sono, e falta de rede de apoio, pode levar ao desmame precoce, caso a mulher não encontre a assistência necessária em curto espaço de tempo.

Embora seja crescente o número de consultoras de amamentação no Brasil, o serviço dentro do Sistema Único de Saúde é pouco disponível. Nos grandes centros, há equipamentos de saúde especializados no tema, mas essa não é a realidade de todas as regiões do país.

Para o aumento do acesso da população às informações sobre aleitamento e consultoria é necessário investimento público em recursos humanos qualificados e em quantidade para ocuparem espaços nas unidades básicas de saúde e maternidades, e com isso gerar resultado direto nos índices de amamentação nacionais e consequente impacto na economia e saúde da população.

*Bruna Alves é obstetriz da Casa Angela há 8 anos, Mestre pela Faculdade de Medicina da USP no departamento de Neurologia, Consultora em Aleitamento Materno, laserterapeuta e mãe do Theo, de 4 anos

*Ioná de Souza é enfermeira obstetra e gerente de enfermagem da Casa Angela – Centro de Parto Humanizado

 

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