Coletivo Percubeat dança em escolas do Extremo Sul para ensinar de História a Matemática

Coletivo Percubeat dança em escolas do Extremo Sul para ensinar de História a Matemática

Elen Soul e Fernando SA batalham por mais estrutura para a dança de rua, manifestação cultural ainda pouco reconhecida e apoiada, e que pode ser instrumento de aprendizado

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Tempo de leitura: 7 minutos

A união entre os noivos Elen Soul, 27 anos, e Fernando SA, de 28, vai além da promessa de matrimônio. Eles batalham por mais estrutura para a dança de rua, uma manifestação cultural ainda pouco reconhecida e apoiada, e que pode ser utilizada como instrumento de aprendizado dentro das escolas.

“Nossa motivação é perceber o interesse dos participantes em outras possibilidades num cenário onde essas crianças e adolescentes estão inseridos, um contexto de violência, então acreditamos que conseguimos minimamente interferir nessa realidade”, conta Elen.

“Mas esbarrávamos na dificuldade para desenvolver as ações na escola onde atuávamos e não podíamos sair de lá para um espaço externo, por exemplo. Então, como dar continuidade se mal tínhamos caixas de som para isso?”, questiona ela.

Com apoio do Programa VAI em 2014 e, novamente neste ano, eles desenvolveram o Percubeat – um projeto que permitiu comprar caixas e mesa de som, microfones, entre outros equipamentos, além da realização de mostras, debates e workshops sobre street dance no Jardim Eliana, Jardim Varginha e Vargem Grande, bairros localizados entre os distritos de Grajaú e Parelheiros.

É sobre esse trabalho que vamos falar em mais uma reportagem do “Cultura ao Extremo”, projeto realizado com apoio do programa Agente Comunitário de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo que tem o objetivo de mapear e visibilizar as manifestações culturais no Extremo Sul da cidade.

Para saber mais e participar também, clique na imagem abaixo ou responda ao questionário no final da matéria.

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O educador Fernando foi criado na Cidade Dutra, outro distrito do Extremo Sul de São Paulo, e começou a praticar dança de rua em 2005.

O contato com o estilo de dança aconteceu no CEU Cidade Dutra, onde começou a treinar break com outros B. Boys num espaço improvisado. Em dois anos, Fernando virou instrutor, mas a dança se manteve apenas como hobby quando começou a trabalhar em outra área.

A partir de 2012, Fernando passou a ver sua paixão como uma possibilidade de atuação profissional. Naquele mesmo ano, foi convidado a participar do Festival de Dança de Joinville, em Santa Catarina, onde conheceu Elen.

Hoje noiva de Fernando, ela teve outra trajetória. Nascida e criada em Itaquera, na zona Leste, Elen pertence a uma família de artistas.

Aos seis anos, ganhou do pai um pandeiro e um cavaquinho. Fez percussão, violão, curso de DJ, participou de corais e só ingressou na dança por meio do jazz. Passou pela dança de salão até que, em 2006, conheceu Nelson Triunfo, pioneiro do break no Brasil. Com ele, participou de oficinas e viajou o País para se apresentar.

Elen iniciou estudos sobre outros estilos de dança de rua e integrou o Programa Vocacional, da Prefeitura de São Paulo.

Há quase quatro anos, ela vive com Fernando em uma casa no Jardim Marilda, distrito do Grajaú. E , em 2013, os dois começaram a atuar juntos em uma escola estadual no Jardim Eliana por meio do programa Mais Educação, que oferece programação complementar para crianças e adolescentes fora do período regular de ensino.

“A dança que a gente pratica ainda não tem a visibilidade técnica da dança contemporânea, por exemplo. Ainda é visto como assistência social”, explica Fernando. “E mesmo no hip hop, ainda vemos o rap e o graffiti como os elementos mais ativos e articulados”.

Quando apresentaram o projeto de dança às escolas, nem sempre eles foram bem aceitos – ainda mais se tratando de um elemento ligado ao hip hop, que segue marginalizado.


“Nas escolas onde atuamos, sempre tentamos nos adequar à situação e ajudar no desenvolvimento do trabalho”, conta Fernando. “Não focamos na dança pela dança, mas sim como ferramenta de informação”.

O Percubeat aborda o conteúdo das aulas de Matemática, por exemplo, aplicando as formas geométricas aos movimentos do corpo ou as frações à marcação de tempo de cada passo.

“70% do aprendizado do ser humano é associado ao corpo e só 30% é a partir da teoria”, ressalta Fernando. “Às vezes um assunto que o aluno demora três aulas para aprender, ele aprende em um dia com a gente”.

Com os cortes do governo estadual na área da educação, as oficinas do Mais Educação não devem rolar – e o trampo de Fernando e Elen, que poderia fortalecer outras disciplinas, segue dificultado.

Sem verba nem espaço próprio, eles dependem da boa vonta de gestores da única casa de cultura do Extremo Sul (a Palhaço Carequinha, no Grajaú) e dos cinco CEUs da região, que nem sempre se abrem facilmente aos fazedores de cultura.

Uma alternativa é a verba obtida do Programa VAI para atuar em 2015, com a qual o coletivo atualmente formado por dez pessoas pretende realizar batalhas de dança com a participação de convidados, debates sobre educação e cultura e workshops para quem quer experimentar dança ou percussão.

“O que o ser humano minimamente tem que fazer para o outro é propiciar experiências e, com o tempo, gerar transformações. É apresentar uma opção que talvez pode ser uma alternativa na vida dessas pessoas”, completa Fernando.

 

Tudo sobre…

Percubeat

Região de atuação: Grajaú, Extremo Sul de São Paulo
Linguagens: Dança, Graffiti, Oficinas
Temas abordados: Arte e cultura, Educação
Público principal: Crianças e adolescentes
Critérios para participação: Nenhum
Com quem se articula: Artistas locais e de outras localidades, Escolas públicas, Movimentos sociais
Como se mantém: Editais públicos
Maiores dificuldades enfrentadas no dia a dia: Recursos financeiros, Espaço físico para atuação, Apoio da comunidade, Conhecimentos sobre gestão e sobre a área/linguagem de atuação
Contatos: pelo e-mail ([email protected]), Facebook ou site.

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