De pequenos atos cotidianos até a morte: É preciso identificar e combater comportamentos xenofóbicos

De pequenos atos cotidianos até a morte: É preciso identificar e combater comportamentos xenofóbicos

Quem nunca foi chamado de “baiano” por outra pessoa que considerou que seu estilo era feio? E quem já ouviu dizer que imigrantes da América Latina ou da África estão vindo roubar nossos empregos no Brasil? Falas como essas tão disseminadas no nosso cotidiano, inclusive na quebrada, têm um nome: xenofobia

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Tempo de leitura: 5 minutos

Por Fernanda Souza, Letícia Padilha e Paula Sant’Ana*

Edição: Thiago Borges. Arte: Rafael Cristiano

Quem nunca foi chamado de “baiano” por outra pessoa que considerou que seu estilo era feio? E quem já ouviu dizer que imigrantes da América Latina ou da África estão vindo roubar nossos empregos no Brasil?

Falas como essas tão disseminadas no nosso cotidiano, inclusive na quebrada, têm um nome: xenofobia. Inclusive, este foi o tema da quarta conversa da série Comunicação com Cuidado – Linguagens Opressoras, realizada em 10 de fevereiro com a participação da Lenne Ferreira, jornalista do Alma Preta e da Afoitas; e do padre Paolo Parise, coordenador da Missão Paz em São Paulo. Assista abaixo:

A xenofobia é um tipo de preconceito e discriminação que se manifesta pela aversão à outra pessoa, mais especificamente contra quem nasceu em locais diferentes do nosso – pode ser em relação a outra cidade, estado ou País, por exemplo.

Vale ressaltar que o racismo e a intolerância religiosa são pilares principais para esse tipo de violência. E muitas dessas ideias estão enraizadas em nossa sociedade, tanto em linguagens quanto comportamentos físicos, e nem sempre sendo radicais – podem ser sutis e até mesmo seletivos.

Um exemplo recente de xenofobia é o que resultou no assassinato de Moïse Kabagambe, jovem congolês que teve sua vida interrompida por cobrar o salário pelo seu trabalho, por ser de outro país e por ser preto.

Seletividade

Você já viu algum “gringo” sofrer xenofobia? Provavelmente não! Isso porque o Brasil é um país racista… Quando recebemos “gringos”, em geral, pessoas brancas vindas da Europa ou América do Norte, eles são bem recebidos por aqui. Bem diferente do “medo” em relação a imigrantes de países como Angola, Haiti, Venezuela, etc.

“Às vezes, conversando com africanos em geral, eles comentam isso. Eles sentem o racismo, por exemplo, quando estão conversando entre eles na calçada e um grupo tá chegando e passa do outro lado da calçada pra não cruzar, pra depois voltar”, explica o Paolo.

Essa seletividade existente na xenofobia se manifesta dessas e outras formas como, por exemplo, diante de manifestações de fé diferentes do padrão cristão-conservador, tornando assim a situação ainda mais complexa e necessária de ser combatida.

Número crescente

Quem vive nas periferias de São Paulo muito provavelmente é migrante ou descendente de migrantes que vieram de outras partes do País, em especial de Minas Gerais ou de estados da região Nordeste, em busca de trabalho – e que acabaram construindo essa cidade.

E nos últimos anos, as quebradas também têm recebido fluxos de imigrantes e pessoas refugiadas de lugares como Bolívia, Venezuela, Haiti, Congo, Nigéria, Senegal… Mas você sabe qual é a diferença entre migrante, imigrante e pessoa refugiada?

O migrante é quem se desloca em um território restrito, geralmente nacional – caso de pessoas vindas do Nordeste para São Paulo, por exemplo. Já o imigrante é uma pessoa que ingressa e fixa residência em um país estrangeiro, diferente do seu país de nascimento. E a refugiada é aquela pessoa que foi forçada a abandonar seu país por motivo de guerra, desastre natural, perseguição política, religiosa, étnica, etc.

Segundo o Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), estima-se que 1,3 milhão de imigrantes viviam no Brasil até 2021 – um crescimento de 24% em 10 anos. E o Comitê Nacional para Refugiados (Conare) registrou 57 mil pessoas em refúgio no País, sendo a maioria da Venezuela, da Síria e do Congo.

“O migrante seria aquele que sai por questões econômicas. Hoje em dia tem alguém que critica essa diferença porque diz que ambos estão forçados. ‘Se eu não tiver comida, eu tenho que sair e procurar em outro lugar’, por exemplo”, completa Parise.

Localizada no Glicério, centro paulistano, a Missão Paz é uma organização ligada à igreja católica que recebe 8 mil pessoas por ano, entre imigrantes e refugiadas. A entidade oferece desde moradia a integração no mercado de trabalho, ensino da língua portuguesa e incidência política nos governos.

*Fernanda Souza, Letícia Padilha e Paula Sant’Ana fazem parte do “Repórter da Quebrada – Uma morada jornalística de experimentações”, programa de residência em jornalismo da quebrada realizado pela Periferia em Movimento por meio da política pública Fomento à Cultura da Periferia de São Paulo

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1 Comentário

  1. […] da América Latina e da África.Em fevereiro deste ano, a Periferia em Movimento realizou mais uma transmissão dentro da série Linguagens Opressoras. E dessa vez, o tema foi “comportamentos xenofóbicos”, que discutiu inclusive o papel da […]

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