Texto e fotos por Julia Vitoria
O sol já estava se pondo na tarde da última sexta-feira (5/12), quando um grupo de pessoas iniciou uma caminhada na avenida Dom Rodrigo Sanchez, no Jardim Amália, que seguiu por 3 quilômetros até o Capão Redondo. Vestindo camisetas e com cartazes nas mãos, familiares e amigos reivindicavam justiça e liberdade para 3 jovens presos injustamente. Apesar do cansaço pela falta de resposta, eles saíram no 4º ato feito na região desde que Alexssandro Moraes, de 18 anos, Erik Bueno, 20, e Kelvin Nascimento, 21, foram detidos.
Os 3 jovens citados acima e Rafael Marques, de 21, são amigos de infância. E desde pequeno, os 4 utilizam a quadra da Escola Municipal Iracema Marques, no Parque do Engenho, como espaço de lazer. No último 18 de novembro, o grupo tirava um lazer no local quando a Polícia Militar chegou atirando e levou todos presos.
“Foi logo cedo. O meu filho tinha acabado de buscar pão, aí passou na quadra porque eles sempre combinam de jogar bola, né? Às vezes ficavam fumando um cigarro, descontraindo, e aconteceu tudo isso. A polícia chegou atirando”, conta Liliane Bueno, mãe do Erik.
Conforme o depoimento dos policiais, um pouco mais cedo naquele dia, eles teriam sido acionados para atender uma ocorrência de roubo de mercadoria de uma Fiorino em andamento na rua Engenheiro Felipe Guiton. Assim que chegaram ao local, o indivíduo que havia efetuado o roubo saiu correndo. Moradores relatam que, nesse momento, a perseguição começou pelo bairro, com helicópteros e muitas viaturas na região.
Após ouvirem os tiros, os 4 jovens que estavam na quadra se esconderam assustados no matagal que fica atrás da escola. Logo depois, foram surpreendidos pelos PMs que faziam a busca pelo roubo da carga e levados para averiguação. “Infelizmente, como teve essa movimentação toda de helicóptero, eles tinham que pegar alguém para falar que fez o seu trabalho,” aponta Liliane.
Os 4 jovens e os familiares só descobriram depois, na delegacia com os depoimentos e acusação dos PMs qual era o motivo pelo fato deles terem sido levados presos.
“Eles souberam só mais tarde desse roubo, quando o envolvido no roubo veio e disse quem estava e quem não estava envolvido ao delegado. Depois a vítima foi lá e não reconheceu eles. Disse que eles não tinham nada a ver. A vítima reconheceu o responsável e o próprio assumiu o roubo”, explica Simone Maria Marques, mãe do Rafael – por fazer tratamento de saúde, ele foi liberado para responder ao processo em liberdade.
Mesmo com todas as provas, testemunhas, a vítima que não reconheceu os 4 meninos e o próprio autor assumindo o crime, o delegado indiciou os jovens por crimes flagrantes contra o patrimônio (artigos 155 a 183 do Código Penal) e roubo consumado (artigo 157), e manteve presos Alexssandro, Erik e Kelvin.
“Meu filho não teve audiência de custódia nenhuma. O certo é [acontecer a audiência] até 72 horas [após a prisão], e agora está lá pagando por uma coisa que não fez. Tanto ele como os demais, que são todos filhos pra gente, criados juntos desde pequenos. Estamos sem chão“
Wilson Camargo, 46, pai do Kelvin
Mikaelly Liborio, namorada de 20 anos do Kelvin, está indignada. “Ninguém tem lazer aqui. O único que achava que tinha aconteceu isso, infelizmente”.
Irmão de Erik, Kaique Bueno diz que não é a primeira vez que a PM reprime os frequentadores da quebrada. “Teve uma vez que era dia de batalha de rima e gravação de um clipe de um MC. E por conta de ser aqui, a polícia veio, enquadrou nois, falou um monte, xingou e mandou nois ir pra casa. Disse que, se visse a gente aqui de novo, as ideias iam ser outras”, lembra o jovem de 22 anos, que é fundador da Batalha do Engenho, que funciona na quadra da escola desde 2019.
Junto à Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, os familiares estão durante todos esses dias juntando provas, depoimentos, filmagens e realizando manifestações pela região. Além da difícil tarefa de provar a inocência dos filhos, lutar pelo nome limpo dos jovens é outra preocupação.
“Eu vejo que aconteceu uma injustiça com os meninos e o que eu espero hoje é que seja feita a justiça. E mais: como ele não fez, como ele é inocente, eu quero que ele não saia com o nome sujo”, salienta Simone Moraes, mãe do Alexssandro.
“Se fosse um lugar mais ‘sofisticado’, eles não iriam chegar atirando assim. Eu espero que a gente consiga provar a inocência deles, porque se eles forem soltos eles também serão constrangidos, porque parece que quando a polícia pega alguém que tem passagem, ela fala assim: ‘encosta aí ladrão’. Eles esculacham. Eu acho que eles deviam cuidar mais né, não apoiar o crime, mas cuidar mais da periferia”, completa Liliane.
O sol se põe e o grupo retoma pra casa na expectativa de raiar a liberdade para os amigos de infância.
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[…] “Foi logo cedo. O meu filho tinha acabado de buscar pão, aí passou na quadra porque eles sempre combinam de jogar bola, né? Às vezes ficavam fumando um cigarro, descontraindo, e aconteceu tudo isso. A polícia chegou atirando”, contou Liliane Bueno, mãe de Erik, ao Periferia em Movimento. […]