#NossoBonde: “Tá na hora de conversar com as pessoas no miudinho”

#NossoBonde: “Tá na hora de conversar com as pessoas no miudinho”

O produtor cultural e militante antirracista Kleber Luís faz parte do #NossoBonde

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Tempo de leitura: 6 minutos

Como hackear o sistema em tempos de guerra de informações no Whatsapp e narrativas conservadores dominando o mundo real e virtual?

Para o produtor cultural e militante antirracista Kleber Luís, o avanço tecnológico ampliou o acesso da quebrada, que consegue fazer quase tudo pelo smartphone. Por outro lado, o movimento conservador soube utilizar muito bem essas ferramentas pra fazer a cabeça da população sobre pautas que não nos interessam. Por isso, é hora de conversar com as pessoas do bairro, do nosso círculo, no miudinho. “Temos que juntar os nossos pra conseguir fazer esse movimento mais orgânico”, diz ele.

Nos 10 anos de trajetória da Periferia em Movimento, Kleber tem um papel importante. E por isso, ele faz parte de #NossoBonde, série que a gente publica todas as segundas-feiras de 2019. Neste ano em que completamos uma década de jornalismo de quebrada, convidamos moradoras e moradores das quebradas que nos ajudaram a refletir sobre a realidade na perspectiva periférica ao longo desse período – e, também, pra saber como imaginam o futuro.

Pai da Sabrina e do Jorge, Kleber tem 37 anos e foi criado no Jardim das Imbuias, Extremo Sul de São Paulo. Atualmente, ele faz parte do 1º Andar Studio e milita contra o racismo no Coletivo Malungo, que por meio da cultura e educação resgata a matriz africana na nossa formação e como seus elementos estão fortemente presentes nas periferias.

“Tivemos diversos avanços e retrocessos. Sobretudo nesses 10 anos pós-segundo mandato do governo Lula, é inegável que em infraestrutura a quebrada deu um salto. As pessoas conseguiram ter acesso a alguns bens materiais que são importantes pra nossas necessidades básicas, construir sua casa, comprar um pedaço de terra pra se assentar (…) Começamos a pensar em outras questões para além do básico, como os estudos. Embora eu seja um crítico ferrenho da gestão petista, não dá pra negar esses avanços”

Kleber Luís

E essa percepção Kleber construiu a partir do território.

Foi office-boy, feirante e ingressou no movimento punk durante a adolescência. Em 2004, quando já atuava como educador em ONGs da região, fundou com outros punks da quebrada o Coletivo FACA com intuito de articular atividades de cultura alternativa na quebrada. Em 2009, com Fernando Sampaio (outro integrante do grupo), Lili Souza e Juliano Angelin, começou a atuar no coletivo Radioativo com a proposta de resgatar a memória de grupos dos movimentos punk e hip hop na Capela do Socorro.

(Foto: Edu Graja)
Kleber (à frente) e Lili (atrás, de branco), durante encontro sobre identidade da mulher negra em 2015. (Foto: Edu Graja)

Após dois anos de pesquisa e o lançamento de uma coletânea com composições dos participantes, o Radioativo chegou ao fim. Kleber e Lili seguiram articulados com a Rede Extremo Sul, movimento que enfrentava os despejos de moradores que aconteciam aos montes nas bordas represa Billings, lutava por saúde no Recanto Cocaia e melhores condições de ensino na Escola Estadual João Silva.

Em 2011, Kleber e Lili empreenderam o 1º Andar Studio. E, dois anos depois, criaram o Coletivo Malungo – uma década após a vigência da lei 10.639, que obriga o ensino de História e Cultura Africana e Afrobrasileira nos espaços de ensino. “A gente brisa como o racismo se refletia nas escolas, nas periferias, e como a gente vê nossa própria história e constrói essa identidade negra e periférica”, disse Kleber, em uma reportagem que a Periferia em Movimento publicou em 2015. Leia aqui.

Assista abaixo um episódio da websérie “Terreiros de Memórias”, produzida em 2017 pelo Malungo:

Hoje, após o golpe que tirou Dilma Rousseff do poder e com a ascensão do fundamentalista Jair Bolsonaro, Kleber avalia que os movimentos sociais estão muito fragilizados e reativos às emboscadas criadas por quem está no poder. “A gente continua apostando nesse ‘Salvador’ que vai nos tirar dos problemas, quando podemos pensar que as soluções dos problemas estão com a gente mesmo se a gente se organizar enquanto sociedade”, aponta.

Por isso, é preciso um tempo para explicar novamente que não há nada de “mimimi” nas lutas por igualdade de gênero ou no combate ao racismo, por exemplo. Mas Kleber acredita na mudança.

“Precisamos encontrar saídas para se auto-organizar e encontrar resultados que a gente espera pra combater esses anos obscuros que a gente tá buscando enfrentar”

Kleber Luís

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