Tá osso. Pode falar. Tem dia que tá osso, e a carne é fraca.
Foi difícil dormir, foi difícil se levantar da cama, tá complicado olhar o mundo lá fora. Pra quem é periférico, negro, indígena, mulher, LGBT… Pra quem é ativista ou jornalista, como nós aqui na quebrada, essa distante democracia parece cada dia mais inalcançável.
O presidente eleito já prometeu acabar com “coitadismos” e varrer toda forma de “ativismos”. Agora, fala em “pacificar” o Brasil. E pra exemplificar, cita Duque de Caxias, o chefe militar do tempo do Império que liderou tropas contra revoltas populares do Nordeste ao Sul do território brasileiro, além de dizimar a população masculina do país vizinho na Guerra do Paraguai.
Em 518 anos de história, reconhecemos essa “paz” como uma senhora que nunca bateu em nossas portas. A pomba branca é mensageira, mas suas asas estão manchadas de vermelho e ela tem dois tiros no peito.
A marcha fúnebre prossegue. Deus da Morte, o louco está por vir!
Apesar de saber que os resultados dessas eleições de domingo são catastróficos porque legitimam mais uma vez nossos algozes no poder, temos ciência de que nossa luta não começa nem termina nas urnas. Por isso, escolhemos a serenidade e sabedoria das nossas avós, dos quintais e terreiros adentro, seu canto de proteção por felicidade, saúde e amor, contra toda tristeza, doença e ódio.
Pés no chão. É hora de reconhecer o lugar em que a gente pisa, de onde viemos e para onde seguimos. Sobreviventes do inferno. Olhemos ao redor, para as bordas, as margens, um bom lugar onde #elenão venceu. As quebradas vão invadir o Centro deles.
Não importa se querem que alguém que vem de onde a gente vem seja mais humilde, baixe a cabeça. Levantamos o pescoço, que é pra ver melhor. Olho no olho. Lado a lado.
Somos a disritimia de um Brasil na corda bamba. Então, vamos acordar, vamos acordar, que briga tem hora pra acabar mas luta é pra uma vida inteira. Chega de pagar veneno. Nós merecemos fartura de vida. Pés no chão, cabeça erguida, olhos nos olhos e vamos juntos!