Duas plenárias de debate, sete mesas simultâneas, oficinas e intervenções culturais com a participação de mais de 30 convidados e convidadas: com essa magnitude, a programação da 1ª edição da Virada Comunicação foi apresentada nesta terça-feira (22 de agosto), em transmissão ao vivo pela página da Rede Jornalistas das Periferias, direto do Centro de Mídia e Comunicação Popular M’boi Mirim, localizado no Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo.
Confira a programação completa no final do texto. Veja como foi a apresentação no vídeo abaixo:
Durante a transmissão, Mariana Belmont (do coletivo Imargem) e Ronaldo Matos (do coletivo Desenrola e Não Me Enrola) apresentaram o conceito da Virada Comunicação, que acontece no dia 16 de setembro no Centro Cultural Grajaú, Extremo Sul de São Paulo. O encontro é voltado a estudantes e profissionais da comunicação, ativistas e movimentos sociais, moradoras e moradores das periferias da Grande São Paulo com objetivo de debater a cobertura da mídia sobre temas cotidianos de quem vive nas quebradas.
“A Virada Comunicação vem com uma provocação para quem faz jornalismo nas periferias e também fora das periferias”, observou Ronaldo Matos, do coletivo Desenrola e Não Me Enrola, durante a transmissão. “O que é noticiado de verdadeiro no cotidiano das quebradas? Quais histórias precisam ser contadas e como precisam ser retratadas?”, completou.
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A apresentação da Virada Comunicação contou também com representantes da Fundação Tide Setúbal e do Instituto Alana, que ao lado da Ford Foundation apoiam a realização do encontro.
“O que a gente chama de grande mídia, quando vai falar de periferias mostra ausências, o que falta, e não mostra toda a potencialidade dos territórios ou a voz de quem tá lá. Então, a gente sabe que a comunicação vinda dos territórios pode ajudar a quebrar esses estigmas e também a trazer um debate mais qualificado na cidade”, apontou Margarida Gorecki, assistente da coordenação de comunicação da Fundação Tide Setúbal, que atua na articulação e promoção do desenvolvimento local na Zona Leste de São Paulo.
“A gente enxerga a nossa participação e apoio na Virada Comunicação como uma das frentes para garantir que haja uma sociedade mais justa, mais equilibrada com jornalismo de qualidade com diferentes olhares e não falando de um lugar só”, salientou Laura Leal, coordenadora de comunicação do Instituto Alana, que atua na promoção de impacto social para a infância.
Confira abaixo a programação completa
09h – Recepção – Credenciamento e café da manhã
10h às 12 – Mesa de abertura: Notícia com CEP
As periferias são complexas. E cada sujeito periférico é um centro em si mesmo. A Rede Jornalistas das Periferias, ou outras redes que existem ou virão a existir, não dá conta de toda a complexidade que habita nas bordas da metrópole. Mas, enquanto movimento, acreditamos na potência e importância de que essas vozes sejam protagonistas também no conteúdo jornalístico sobre essas regiões da cidade, constituídas historicamente em condições sociais de desigualdade de raça, classe e gênero que se reproduzem, inclusive, no ambiente profissional da comunicação. A Rede Jornalistas das Periferias reúne comunicadoras, comunicadores e coletivos que atuam a partir das bordas da Grande São Paulo em diferentes frentes e áreas do campo da comunicação com objetivo de promover e disseminar a informação produzida pelas e para as quebradas.
Participantes: Binho (Sarau do Binho) e Maria Vilani (Centro de Arte e Promoção Social Grajaú). Mediação: Gisele Brito (Rede Jornalistas das Periferias) e Tony Marlon (coletivo Historiorama)
12h – Almoço
13h20 às 13h50 – Intervenção cultural
14h às 15h30 – Mesas simultâneas – primeira rodada
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Mesa 1: Genocídio e Segurança Pública
Quais as relações entre o genocídio da população jovem preta com as periferias de São Paulo? A cobertura feita pelos coletivos de comunicação dá conta dessas problemáticas? Como os meios de comunicação se relaciona com esse assunto? O genocídio tem CEP, raça e classe social, atinge a da juventude preta, pobre e periférica. Sempre estigmatizada, a partir dos anos 90 as periferias São descritas como sede da indústria da droga, criando clima favorável a ação violenta do Estado. A marginalização dos territórios periféricos, estratégica para o controle da população e manutenção das estruturas racistas, faz parecer normal a morte, a violência, a humilhação, o encarceramento. Como a comunicação periférica pode enfrentar esses problemas? Quais pautas e abordagens devem ser enfatizadas?
Participantes: Francilene Gomes (Movimento Mães de Maio), Nathália Oliveira (Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas) e Kaique Dalapola (Ponte Jornalismo). Mediação: Pedro Borges (coletivo Alma Preta)
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Mesa 2: Educação e Cultura
Cultura e Educação são direitos garantidos pela Constituição Brasileira. É dever do Estado promover o acesso e incentivar o exercício pleno desse direito. Será? O sucateamento das escolas, a falta de vagas e as péssimas condições de trabalho dos professores da rede pública de ensino ainda fazem parte da realidade das periferias. Na contramão desse sistema falido, algumas escolas e profissionais de educação criam estratégias para romper a bolha, aplicando metodologias que fogem à regra para levar conhecimento aos moradores que estão às margens. Na mesma direção, a Cultura produzida de forma autônoma pelos coletivos periféricos estimula o protagonismo local, empodera as comunidades e constrói alternativas criativas que estimulam a visão permitindo que novas perspectivas sejam criadas. Como a comunicação periférica pode contribuir e potencializar esses novos movimentos que muitas vezes ficam ilhados dentro de seus territórios e deixam de serem partilhados pela mídia convencional?
Participantes: Alexandre Barbosa Pereira ( Doutor em Antropologia Social pela USP), Ana Fonseca (coletivo Perifatividade – Fundão do Ipiranga) e Solange (EMEF Sócrates Brasileiro – Campo Limpo). Mediação: Gisele Alexandre (coletivo Capão News)
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Mesa 3: Moradia e Meio Ambiente
A questão ambiental segue dissociada do processo de desenvolvimento da desigualdade e da exclusão social nas grandes cidades. Em geral os meio de comunicação não conseguem traduzir de forma clara e direta informações sobre as conexões entre os dois temas. Os veículos precisam estudar para pautar de forma responsável a falta de moradia que incide em degradação ambiental, principalmente nas margens da cidade. Nas periferias localizadas em áreas de mananciais a exclusão social tem uma componente ambiental, e isso implica em transporte precário, saneamento deficiente, drenagem inexistente, dificuldade de abastecimento doméstico, difícil acesso aos serviços de saúde, maior exposição as enchentes e risco de vida por desmoronamentos, entre outros pontos. Todos esses pontos não são observados e conectados na produção de conteúdo dos meios de comunicação.
Participantes: Helena Silvestre (Movimento Luta Popular), Maria Alves da Silva (MST) e Maria Lucia Ramos. Mediação: Mariana Belmont (coletivo Imargem)
15h30 – Intervalo para café
16h às 17h30 – Mesas simultâneas – segunda rodada
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Mesa 4: Etnias – Indígenas, negros e imigrantes
Nem sempre as periferias foram o território dos negros, dos indígenas e dos imigrantes, todos eles desterrados de seus locais de origem e dos locais escolhidos para a implantação do projeto de desenvolvimento hegemônico, sempre em processos violentos. O acesso a serviços públicos adequados às suas culturas e tradições, atentos aos seus problemas é uma das grandes expressões disso. A estigmatização propagada pela mídia hegemônica e pelo próprio Estado, produzem preconceitos, racismo e xenofobia. Atualmente, no entanto, esses grupos étnicos são a essência da potência das periferias da cidade de São Paulo. Como a comunicação periférica pode enfrentar esses problemas e dar visibilidade às potências? Quais pautas e abordagens devem ser enfatizadas?
Participantes: Jerá Guarani (Aldeia Tenéond Porã – Parelheiros), Jobana Moya e Marcio Farias. Mediação: Jéssica Moreira (Nós, Mulheres da Periferia)
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Mesa 5: Transporte e Desenvolvimento Local
Foi a partir do desenvolvimento do transporte sobre pneus que as periferias de São Paulo se desenvolveram, indo pra além dos rios e da malha ferroviária. Esse sistema mantém a lógica do morador das periferias como mão de obra para postos de trabalho em locais distantes, normalmente em áreas mais ricas da cidade. De maneira empreendedora e autogestionária, os melhores moradores abrem seus negócios e oferecem serviços e trabalho para seus vizinhos. Mas muitas vezes, quando volta pra casa num busão lotado, caro, depois de um longo dia de trabalho, o açougue, o mercado, a papelaria estão fechados. Esse mesmo ônibus passa menos nos finais de semana e dificilmente conecta as quebradas, que oferecem cada vez mais opções de lazer. Como a comunicação periférica pode enfrentar esses problemas e dar visibilidade às potências dos empreendedores locais, das iniciativas autogeridas? Quais pautas e abordagens devem ser enfatizadas?
Participantes: Alex Barcellos (Agência Solano Trindade), Francisco Sanches (Movimento Passe Livre – MPL) e Isadora Santos (Unisol). Mediação: Paulo Silas Ribeiro (TV Grajaú)
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Mesa 6: Questões de gênero e sexualidade – Influência no feminino, no masculino e na população LGBT
Existe um machismo periférico? Como a comunicação se relaciona com essa questão? Em um contexto onde a discussão ganhou mais força e visibilidade, e ativistas e movimentos conquistaram algumas das muitas disputas relacionadas à igualdade de gênero, é possível pensar em um recorte de território? Apesar de alguns avanços, dados apontam para condições ainda alarmantes. Mulheres negras são, na base da pirâmide, as que recebem os menores salários, 40% menos que homens brancos. E são, nos bairros periféricos, as responsáveis pela maioria dos lares; das famílias que habitam domicílios urbanos em favelas, 26% são liderados por elas. Mulheres negras são também as principais vítimas de violência doméstica e feminicídio. E Parelheiros, Perus e Itaim Paulista são os distritos com mais altos índices de casos na cidade de São Paulo. No Brasil, a cada 25 horas uma pessoa LGBT é morta. Segundo o Censo 2010, a maioria dos casais homossexuais vivem nos distritos periféricos, sendo a Brasilândia, na zona norte, o local onde residem mais casais, seguido de Cidade Ademar e Cidade Tiradentes. Como se dá as relações familiares e construções de identidade nesses espaços? Os jovens negros e periféricos são as principais vítimas de mortes violentas na cidade, sobretudo por policiais. Qual a postura esperada pelos homens na periferia? Quais são as perspectivas e alternativas para eles? Discutir as questões de gênero com um recorte de território se faz importante para entender as dinâmicas sociais em que vivemos. Para isso, a comunicação precisa ser uma aliada na construção de relações pessoais, sociais, profissionais, econômicas mais justas e igualitárias, contemplando a diversidade e o respeito a todas as formas de existência humana.
Participantes: Bruno César (Periferia Trans), Fernanda Gomes, Jennyfer Nascimento (coletiva Fala Guerreira) e Rafael Cristiano (Núcleo Pele)
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Mesa 7: Educomunicação e Direito à Comunicação – Como pautamos? Pautamos certo? O que precisamos pautar?
Como os territórios são afetados pela concentração da mídia? Como isso colabora com a segregação? Como a Educomunicação e o Direito à comunicação se relacionam? Hoje diversos coletivos de comunicação das periferias da cidade de São Paulo atuam com Educomunicação, formam jovens dispostos a construir outro modo de fazer e atuar na comunicação das suas regiões. Possibilidades de interação com temas como o direito humano à comunicação, conectado com direito à liberdade de expressão, o direito à comunicação, de maneira mais abrangente, a representatividade de grupos historicamente excluídos e discriminados na produção de comunicação, democracia participativa, meio ambiente e afins.
Participantes: Aline Rodrigues (coletivo Periferia em Movimento), Ana Claudia Mielke (coletivo Intervozes) e Ronaldo Matos (coletivo Desenrola e Não Me Enrola)
17h30 – Intervalo
17h40 às 19h30 – Painel de Encerramento: Comunicação e como viver dela
Participantes: Juca Guimarães (R7), Gisele Alexandre (Capão News) e Gustavo Soares (Periferia Invisível). Mediação: Simone Freire e Ronaldo Matos
19h40 – Show de encerramento
Oficinas
Voltadas exclusivamente a estudantes do campo da comunicação, acontecerão seis oficinas de educomunicação no decorrer da Virada Comunicação. A primeira delas, “Quebrando estereótipos”, envolverá participantes na discussão sobre uma cobertura sem rótulos. Depois, o público se divide em cinco linguagens para realizar a cobertura da Virada Comunicação: foto, vídeo, transmissão ao vivo, áudio e cartografia.
SOBRE A REDE
Formada por comunicadoras, comunicadores e coletivos que atuam a partir das bordas da Grande São Paulo, a Rede Jornalistas das Periferias tem como objetivo promover e disseminar a informação produzida pelas e para as quebradas. Enquanto movimento, acredita na potência e importância de que essas vozes sejam protagonistas também no conteúdo jornalístico sobre essas regiões da cidade, constituídas historicamente em condições sociais de desigualdade de raça, classe e gênero que se reproduzem, inclusive, no ambiente profissional da comunicação.
SOBRE A VIRADA
A Virada Comunicação é realizada com apoio da Ford Foundation, Fundação Tide Setúbal e Instituto Alana, e é idealizada e organizada por 13 coletivos integrantes da Rede: Alma Preta, Capão News, Casa no Meio do Mundo, Desenrola E Não Me Enrola, DiCampana Foto Coletivo, DoLadoDeCá, Historiorama: Conteúdo & Experiência, Imargem, Mural – Agência de Jornalismo das Periferias, Nós, Mulheres da Periferia, Periferia em Movimento, Periferia Invisível e TV Grajaú.