Afetos e trocas familiares que passam de geração a geração

Afetos e trocas familiares que passam de geração a geração

As semelhanças e diferenças em suas criações fazem com que hoje, sendo mães, tanto Aline quanto Judie possam visitar memórias afetivas com suas crianças

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Tempo de leitura: 8 minutos

De Geração para Geração | Neste fim de ano, marcado por reencontros familiares ou por saudades de quem não está mais entre nós, a Periferia em Movimento publica uma série de textos sobre a importância dessas relações com pessoas de diferentes gerações para o desenvolvimento infantil

A repórter Letícia Padilha conta as histórias de Aline Rodrigues e Karina Rodrigues

Aline nasceu na rua Laguna, hoje uma avenida no Jardim Caravelas, na zona Sul. Mas passou boa parte da sua infância em Santa Margarida, também na zona Sul de São Paulo. Sua mãe tinha uma escolinha que funcionava no quintal de casa, onde ela cresceu – sempre ajudando nas decorações das festas, ao mesmo tempo que vivia suas primeiras experiências com amigos. 

Criada com sua mãe, seu pai e sua irmã mais nova, Aline conta que nunca teve o hábito de dormir na casa de amizades, mas que sua casa  – também por ser a escola que sua mãe criou – sempre esteve cheia de pessoas. O que acabou sendo triste quando completou 12 anos e precisou se mudar com a família para a região do Campo Limpo, próximo da casa de seus avós paternos no Parque Arariba.

Ao contrário de Aline, Karina nasceu, cresceu e vive até hoje não só no mesmo bairro como na mesma casa na região do Grajaú, zona Sul paulistana. Mais conhecida como Judie, ela cultiva um quintal que era uma verdadeira floresta particular em toda sua infância. Não só pra ela como para as pessoas da vizinhança, que estavam sempre por lá pra brincar no pé de amora! Foi no mesmo quintal que ela viu seu pai cultivar hortas, se reconectando com suas raízes. 

Aline hoje é jornalista, atuando na Periferia em Movimento, e mãe da Helena, de 6 anos. Judie é aroeira, estudante de Sociologia, jardineira e atua com gestão de novos projetos na PEM. Também é mãe do Raul, de 1 ano e 9 meses. Ambas têm em comum a partilha de tradições passadas de geração em geração, de maneira natural, sem calcular. 

Nas fotos acima, as vivências de Aline criança e com a filha Helena: fotos em formatura, em aulas de dança, festas de aniversários (fotos: Arquivo pessoal)

O Natal de Aline sempre foi rodeado de afeto, com uma reunião grande, onde cada família levava um prato. Ela e sua irmã ajudavam a mãe a fazer bolo de nozes e pão de queijo (aqueles de potinho caseiro). Já as festas de Judie foram marcadas pelos forrós até altas horas na casa da madrinha e a visita da vizinhança sempre depois da meia-noite, com várias ceias numa noite só! 

Hoje, com a pandemia, não é possível ‘filar’ a ceia do vizinho ou provar de vários pratos na ceia, mas isso não impede a Helena de ajudar numa receita de sua avó Sônia, que está eternizada no livro de receitas que Aline a deu. E o Raul sempre interage com bastante energia aos encontros virtuais que tem, além de explorar o quintal que sua mãe cresceu por ele mesmo.

Raul, mesmo sendo bem novinho, tem toda a liberdade para conhecer e explorar o universo que existe no seu quintal. Está sempre  ao lado de Judie enquanto cultiva sua horta, coisa que ela mesma fazia com seu pai Sebastião. Tião sempre levava Judie com seus irmãos e vizinhos na Ilha do Bororé pra pescar. Hoje, Judie passeia com Raul e seu companheiro na balsa que existe sobre a represa Billings sempre que podem. 

Nas fotos acima, vivências na Ilha do Bororé: da esq. à dir., Judie com pai e amigos; o filho Raul na balsa; e com o companheiro Caio (fotos: Arquivo pessoal)

A troca com seus vizinhos à procura de ervas do quintal continua viva no dia a dia de Judie, assim como na sua infância. E sua mãe Quitéria troca sua falta de experiência em plantar por um vasto conhecimento em plantas. Mesmo com a distância física, as tradições ainda permeiam sua vida, fazendo com que Raul, desde pequeno, partilhe de sua ancestralidade, criando também novas experiências como empinar pipa com seu pai na laje de casa

Já Helena foi oradora na sua turma da escola, assim como Aline na escola de sua mãe na infância. E hoje, elas cuidam de uma plantação juntas. Aline carrega consigo um legado de cuidado e afeto, que repassa a Helena, assim como sua mãe Sônia fez. Rodeada de amor pelas lembranças da avó que não pode conhecer, Helena partilha da paixão pela música de seu avô Luís, mais conhecido como Didi.

As semelhanças e diferenças em suas criações fazem com que hoje, sendo mães, tanto Aline quanto Judie possam visitar memórias afetivas, e sem querer notar os padrões positivos que se repetem, tornando o legado de suas referências vivas na filha e no filho delas – e sempre pensando no quanto essas lembranças são de suma importância para o crescimento deles, assim como foi para os delas. 

Este conteúdo faz parte da série de reportagens “De Geração para Geração”, da Periferia em Movimento, e conta com apoio da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV)

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