“Deus diz para amar, independente de quem seja. É amor. Acima de tudo o amor”, diz fiel evangélica

“Deus diz para amar, independente de quem seja. É amor. Acima de tudo o amor”, diz fiel evangélica

Caroline Bastos é a primeira entrevistada de "Mulheres de Fé", que apresenta mulheres periféricas de várias crenças engajadas nas comunidades

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“Os 2 mandamentos principais da Bíblia são: ‘amar a Cristo sobre todas as coisas’ e ‘amar o próximo como a ti mesmo’. Como você vai amar o próximo como a ti mesmo e quer matar outra pessoa?” – Caroline Bastos, de 25 anos. 

Atualmente sem emprego, a jovem moradora do Grajaú (no Extremo Sul de São Paulo) dedica de 3 a 4 dias por semana à Igreja Batista Regular, onde ministra aulas para jovens, atua no grupo de louvor e exerce funções administrativas. 

Carol faz parte do cenário de transformação do Brasil com base na religião, que registra um aumento do número de pessoas que fazem parte de alguma denominação evangélica. Estima-se que mais de um terço da população frequente algum dos quase 110 mil templos existentes no País até 2019, segundo o Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (CEM/USP). 

Apesar de a população brasileira ser predominantemente católica desde o século 16 e da existência de movimentos como a bancada evangélica no Poder Legislativo, o Brasil é constitucionalmente um Estado laico, o que garante o livre exercício de qualquer manifestação religiosa dentro do território nacional sem que haja represálias ou tentativas de subverter quaisquer práticas de fé. 

Clique nas fotos para ampliar e confira trechos da entrevista em que ela fala de valores religiosos, familiares e a vida em sociedade.

Fé e herança familiar

“(Minha fé) É o que rege a minha vida desde que eu nasci. Desde que eu me entendo por gente que eu aceitei a Cristo. É o que vem dirigindo minha vida que me mostra o caminho a seguir”.

“Eu lembro que sempre ia pra igreja com minha mãe. Sempre, sempre e sempre. E aí, na nossa igreja, nossa religião, a gente tem aquela questão de aceitar a Cristo como seu único salvador. Eu lembro que eu aceitei aos 11 anos. Só que a gente aceita Cristo, mas não é necessariamente aí que a gente começa a viver de uma forma diferente. Eu comecei realmente a viver diferente aos 16 anos, depois eu nunca mais quis sair, sempre foi uma escolha continuar.”

Igreja: Juventude, música e conscientização

“Eu trabalho com jovens a partir dos 17 anos, mas tem aluno de 40 anos que tá na sala porque se sente melhor estando na sala dos jovens do que indo pra sala dos adultos, porque a sala dos jovens é algo mais íntimo. Jovem gosta muito de falar sem ser julgado. Na sala dos adultos a gente tem um olhar que a gente acaba sendo julgado, querendo ou não. Acaba sendo, né? Os adultos sempre querem julgar de alguma forma, então na sala dos jovens a gente se sente mais íntimo. É mais uma troca, de conversas e tudo mais, e a gente tem recebido relatos de pais falando que os filhos têm aprendido, têm gostado”.

“Fiz parte de um grupo de canto anterior, mas foi desfeito e aí cada uma seguiu seu caminho. Nisso, eu parei de cantar na Igreja. E aí por volta de 2021, 2022, eu quis voltar a cantar porque no momento na igreja não tinha o vocal feminino, só tinha masculino. Então, eu perguntei se eu poderia entrar, se poderia ajudar nesse sentido”.

“Além da questão dos jovens e da música, eu também faço parte do boletim informativo da igreja, então todo mês a gente faz um boletim com as informações, o que vai ocorrer na igreja durante o mês… a partir desse ano a gente também tá colocando um informativo sobre conscientização em cada mês. Nesse mês foi sobre a hepatite, mas já colocamos outros problemas de saúde, como ansiedade ou depressão. É uma informação para as pessoas procurarem se cuidar”.

Mulheres, estilo e política

“Não tem diferença, as mulheres são tratadas como iguais [na igreja]. O pastor é um homem, porém ele trata as mulheres todas iguais, não tem distinção. Então, nunca senti diferença. ‘Ah, eu quero falar uma palavra e não posso porque sou mulher’. Não, nunca aconteceu”.

“Das tatuagens, nunca falaram nada. Quando eu fiz a tatuagem, foi em homenagem ao meu primo que sofreu um acidente e acabou vindo a falecer, né? Eu e minhas primas nos juntamos e fizemos essa tatuagem em homenagem a ele, e na época eu até cheguei e perguntei para o pastor: ‘você acha que teria algum problema eu fazer?’. Ele falou assim para mim: ‘se você está em paz no seu coração, em paz com Deus, faz’. Eu estava tranquila, quando coloquei piercing eu estava tranquila, tenho 2 brincos, pretendo colocar piercing na orelha, tenho cabelo rosa, tô lá na frente da igreja cantando e ninguém nunca falou nada”.

“No passado eu brigava muito na internet por causa da minha posição política. Eu nunca apoiei o ex-presidente [Jair Bolsonaro]. Hoje, para mim é tranquilo, porque eu não fico brigando nem tentando impor a minha religião nas pessoas que não são cristãs e também não fico tentando impor a minha decisão política para as pessoas. Eu falo as minhas ideias com quem eu consigo conversar, mas se a pessoa começa a brigar eu não vou adiante porque não vale a pena, né? E eu conheço pessoas que se afastaram por conta disso, e assim… a gente fica triste, né?”

“Essa semana, a gente viu um pastor falando para matar o pessoal da comunidade LGBTQIA+, e eu pelo menos não concordo, porque a palavra de Deus diz para a gente amar, independente de quem seja. É amor. Acima de tudo, o amor”.

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“Os 2 mandamentos principais da Bíblia são: ‘amar a Cristo sobre todas as coisas’ e ‘amar o próximo como a ti mesmo’. Como você vai amar o próximo como a ti mesmo e quer matar outra pessoa?” – Caroline Bastos, de 25 anos. 

Atualmente sem emprego, a jovem moradora do Grajaú (no Extremo Sul de São Paulo) dedica de 3 a 4 dias por semana à Igreja Batista Regular, onde ministra aulas para jovens, atua no grupo de louvor e exerce funções administrativas. 

Carol faz parte do cenário de transformação do Brasil com base na religião, que registra um aumento do número de pessoas que fazem parte de alguma denominação evangélica. Estima-se que mais de um terço da população frequente algum dos quase 110 mil templos existentes no País até 2019, segundo o Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (CEM/USP). 

Apesar de a população brasileira ser predominantemente católica desde o século 16 e da existência de movimentos como a bancada evangélica no Poder Legislativo, o Brasil é constitucionalmente um Estado laico, o que garante o livre exercício de qualquer manifestação religiosa dentro do território nacional sem que haja represálias ou tentativas de subverter quaisquer práticas de fé. 

Clique nas fotos para ampliar e confira trechos da entrevista em que ela fala de valores religiosos, familiares e a vida em sociedade.

Fé e herança familiar

“(Minha fé) É o que rege a minha vida desde que eu nasci. Desde que eu me entendo por gente que eu aceitei a Cristo. É o que vem dirigindo minha vida que me mostra o caminho a seguir”.

“Eu lembro que sempre ia pra igreja com minha mãe. Sempre, sempre e sempre. E aí, na nossa igreja, nossa religião, a gente tem aquela questão de aceitar a Cristo como seu único salvador. Eu lembro que eu aceitei aos 11 anos. Só que a gente aceita Cristo, mas não é necessariamente aí que a gente começa a viver de uma forma diferente. Eu comecei realmente a viver diferente aos 16 anos, depois eu nunca mais quis sair, sempre foi uma escolha continuar.”

Igreja: Juventude, música e conscientização

“Eu trabalho com jovens a partir dos 17 anos, mas tem aluno de 40 anos que tá na sala porque se sente melhor estando na sala dos jovens do que indo pra sala dos adultos, porque a sala dos jovens é algo mais íntimo. Jovem gosta muito de falar sem ser julgado. Na sala dos adultos a gente tem um olhar que a gente acaba sendo julgado, querendo ou não. Acaba sendo, né? Os adultos sempre querem julgar de alguma forma, então na sala dos jovens a gente se sente mais íntimo. É mais uma troca, de conversas e tudo mais, e a gente tem recebido relatos de pais falando que os filhos têm aprendido, têm gostado”.

“Fiz parte de um grupo de canto anterior, mas foi desfeito e aí cada uma seguiu seu caminho. Nisso, eu parei de cantar na Igreja. E aí por volta de 2021, 2022, eu quis voltar a cantar porque no momento na igreja não tinha o vocal feminino, só tinha masculino. Então, eu perguntei se eu poderia entrar, se poderia ajudar nesse sentido”.

“Além da questão dos jovens e da música, eu também faço parte do boletim informativo da igreja, então todo mês a gente faz um boletim com as informações, o que vai ocorrer na igreja durante o mês… a partir desse ano a gente também tá colocando um informativo sobre conscientização em cada mês. Nesse mês foi sobre a hepatite, mas já colocamos outros problemas de saúde, como ansiedade ou depressão. É uma informação para as pessoas procurarem se cuidar”.

Mulheres, estilo e política

“Não tem diferença, as mulheres são tratadas como iguais [na igreja]. O pastor é um homem, porém ele trata as mulheres todas iguais, não tem distinção. Então, nunca senti diferença. ‘Ah, eu quero falar uma palavra e não posso porque sou mulher’. Não, nunca aconteceu”.

“Das tatuagens, nunca falaram nada. Quando eu fiz a tatuagem, foi em homenagem ao meu primo que sofreu um acidente e acabou vindo a falecer, né? Eu e minhas primas nos juntamos e fizemos essa tatuagem em homenagem a ele, e na época eu até cheguei e perguntei para o pastor: ‘você acha que teria algum problema eu fazer?’. Ele falou assim para mim: ‘se você está em paz no seu coração, em paz com Deus, faz’. Eu estava tranquila, quando coloquei piercing eu estava tranquila, tenho 2 brincos, pretendo colocar piercing na orelha, tenho cabelo rosa, tô lá na frente da igreja cantando e ninguém nunca falou nada”.

“No passado eu brigava muito na internet por causa da minha posição política. Eu nunca apoiei o ex-presidente [Jair Bolsonaro]. Hoje, para mim é tranquilo, porque eu não fico brigando nem tentando impor a minha religião nas pessoas que não são cristãs e também não fico tentando impor a minha decisão política para as pessoas. Eu falo as minhas ideias com quem eu consigo conversar, mas se a pessoa começa a brigar eu não vou adiante porque não vale a pena, né? E eu conheço pessoas que se afastaram por conta disso, e assim… a gente fica triste, né?”

“Essa semana, a gente viu um pastor falando para matar o pessoal da comunidade LGBTQIA+, e eu pelo menos não concordo, porque a palavra de Deus diz para a gente amar, independente de quem seja. É amor. Acima de tudo, o amor”.

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