Genocídio e Segurança Pública são tema de discussão na Virada Comunicação

Genocídio e Segurança Pública são tema de discussão na Virada Comunicação

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Encontre o erro: “Menor de idade rouba celular de adolescente”. Ambos têm menos de 18 anos, mas quem é o menor e quem é o adolescente, segundo a manchete publicada em uma mídia on-line? Geralmente, o que determina essa diferenciação no tratamento é um dos fatores (senão todos eles juntos): ser negro, pobre e morador de uma região periférica.
Cerca de 60 mil pessoas são assassinadas anualmente no Brasil, de acordo com Instituto de Pesquisas e Estatística Aplicada (IPEA). Dessas, 31 mil têm até 29 anos e 71% são negras. Os números da violência ocupam as manchetes diariamente e atraem a atenção dos espectadores: nos noticiários televisivos da manhã, da hora do almoço ou do fim de tarde; nos jornais dito “populares”; em páginas da internet; e nos grupos de whatsapp. Apesar do aparente interesse pelo assunto, a raiz do problema está de fato em discussão?
Questão urgente, Genocídio e Segurança Pública são tema de uma das mesas simultâneas de debate da primeira edição da Virada Comunicação, que tem como objetivo discutir, refletir e apontar caminhos para a abordagem da mídia de temáticas do cotidiano de quem mora nas bordas da metrópole. Promovido pela Rede Jornalistas das Periferias, o encontro é voltado a estudantes e profissionais da comunicação, ativistas e movimentos sociais, moradoras e moradores das periferias da Grande São Paulo. Com mais de 10 horas de atividades, a Virada Comunicação acontece dia 16 de setembro no Centro Cultural Grajaú (Extremo Sul de São Paulo) e mescla oficinas de comunicação, intervenções culturais e mesas com a participação de 34 convidadas e convidados. As inscrições são gratuitas (saiba mais no link ao final do texto).
Para Pedro Borges, jornalista do coletivo de mídia negra Alma Preta e mediador da mesa sobre Genocídio e Segurança Pública, para discutir violência e segurança pública é preciso falar de racismo e do genocídio do povo negro no Brasil – debate que a mídia no geral não faz. “Os meios de comunicação cumprem o papel de sustentação da política do Estado Brasileiro, bancam e legitimam a ação truculenta do Estado nas suas mais diversas formas, tanto no campo físico quanto no campo simbólico”, observa.
A mesa conta, ainda, com a participação de Francilene Gomes, irmã de Paulo Alexandre, desaparecido nos Crimes de Maio de 2006 e integrante do movimento Mães de Maio; Nathalia Oliveira, da Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas (INNPD); e Kaique Dalapola, repórter da Ponte Jornalismo.
As ações policiais, que ganham destaque nas telas de celulares, televisores e até cinemas, focam na “guerra às drogas” – pretexto utilizado para manter uma “pretominância” nos índices de violência. Em vigor desde 2006, a Lei de Drogas estabelece pena de 05 a 15 anos para quem vende drogas ilegais. Como resultado disso, entre 2006 e 2014, o número de presos por tráfico de drogas no Brasil saltou 339% – de 31 mil para 140 mil, segundo o Departamento de Execução Penal (Depen) do Ministério da Justiça.
Até 2014, 27% dos presos brasileiros estavam na cadeia por causa do tráfico de drogas. Essa é a principal causa de detenção no País, à frente de roubos (21%), furtos (11%) e homicídios (14%). O percentual é ainda maior entre mulheres, 63%, cujo número de detenções mais que dobrou na última década – de 18 mil para 38 mil. Vale destacar que 61,6% dos presos no Brasil são negros, segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), com dados de dezembro de 2014. O índice é maior do que entre a população como um todo, onde 53,6% das pessoas se declaram negras.
Para Pedro, a ocultação ou descontextualização de informações manipuladas pela mídia são um desserviço à sociedade e um descumprimento da missão que o jornalismo deveria cumprir. E, apesar de os homicídios e o encarceramento da população negra serem a forma mais escancarada, o genocídio também se dá em outros aspectos.
“Seja por meio da violência policial, seja por meio da esterilização das mulheres negras no sistema de saúde, seja por meio do epistemicídio e do apagamento de todas as referências afrobrasileiras e das formas de conhecimento e modo de pensar que as tradições africanas trouxeram para o Brasil: os meios de comunicação têm o papel de legitimação e de intensificar esse processo”, completa Pedro.
 

SOBRE A REDE JORNALISTAS DAS PERIFERIAS

Formada por comunicadoras, comunicadores e coletivos que atuam a partir das bordas da Grande São Paulo, a Rede Jornalistas das Periferias tem como objetivo promover e disseminar a informação produzida pelas e para as quebradas. Enquanto movimento, acredita na potência e importância de que essas vozes sejam protagonistas também no conteúdo jornalístico sobre essas regiões da cidade, constituídas historicamente em condições sociais de desigualdade de raça, classe e gênero que se reproduzem, inclusive, no ambiente profissional da comunicação.
 

SOBRE A VIRADA COMUNICAÇÃO 2017

A Virada Comunicação é realizada com apoio das instituições Ford Foundation, Fundação Tide Setúbal e Instituto Alana, e idealizada e organizada por 13 coletivos integrantes da Rede: Alma Preta, Capão News, Casa no Meio do Mundo, Desenrola E Não Me Enrola, DiCampana Foto Coletivo, DoLadoDeCá, Historiorama: Conteúdo & Experiência, Imargem, Mural – Agência de Jornalismo das Periferias, Nós, Mulheres da Periferia, Periferia em Movimento, Periferia Invisível e TV Grajaú.
 

Serviço

Virada Comunicação
Quando? Sábado, 16 de setembro de 2017, das 09h às 22h
Onde? No Centro Cultural do Grajaú – Rua Professor Oscar Barreto Filho, 252 – Grajaú – Extremo Sul de São Paulo
Para quem? Estudantes, pesquisadores e profissionais da comunicação; ativistas e movimentos sociais; moradoras e moradores das periferias de São Paulo
Como participar? Limite de 500 vagas com critérios de participação. Inscrições gratuitas no link https://goo.gl/forms/AhpICkv87vb8h0Qf2
Evento no Facebook: goo.gl/vo7vht
Programação completa em: www.viradacomunicacao.org
 

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