A cor da pandemia: Covid-19 mata mais homens negros que brancos

A cor da pandemia: Covid-19 mata mais homens negros que brancos

Pesquisa aponta risco de morte por covid-19 maior considerando a cor da pele, tanto no topo quanto na base das ocupações do mercado de trabalho

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Por Thiago Borges. Foto em destaque: Douglas Fontes

Homens negros morrem mais por covid-19 do que homens brancos, mesmo em cargos profissionais do topo do mercado de trabalho. Na base da pirâmide, os primeiros também são vulneráveis que os segundos. É o que aponta a nota técnica divulgada nesta segunda-feira (27/9) pela Rede de Pesquisa Solidária, que reúne mais de 100 profissionais de diferentes áreas em todo o Brasil.

O boletim analisou as mortes pela doença em 2020 a partir das ocupações profissionais exercidas pelas vítimas, assim como o gênero e a raça ou cor atribuídos a elas. Até dezembro do ano passado, o País havia registrado mais de 206 mil mortes por covid-19, das quais 67.536 tiveram a ocupação das vítimas reportada. É esse universo que dá embasamento à pesquisa.

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Com isso, a pesquisa identificou que o risco de morte de homens negros em relação a brancos é:

– 146% entre aqueles que trabalham como agentes comunitários de saúde;

– 74% maior entre entregadores;

– 67% entre trabalhadores de linhas de produção de indústrias;

– 52% entre professores e profissionais da educação básica;

– e de 42% a 48% maior entre advogados, administradores, contadores, engenheiros, arquitetos e outros profissionais com ensino superior.

A exceção está entre quem trabalha na agricultura e na pesca, em que o risco identificado foi 33% menor para homens negros.

“Os motivos para esse padrão podem ser encontrados em 2 fatores principais. Em primeiro lugar, nas diferentes formas de inserção laboral. Mesmo exercendo as mesmas ocupações, negros tendem a uma inserção significativamente mais precária, seja em razão do tipo de vínculo (formal x informal) ou da natureza dos estabelecimentos (mais ou menos estruturados”, aponta a nota técnica.

A desigualdade de acesso a recursos e a exposição a fatores ambientais (como moradias insalubres ou dieta com baixa qualidade nutricional) também influenciam nesse risco, segundo a pesquisa. Outro ponto é a necessidade do trabalho presencial ou a possibilidade do trabalho remoto.

“Estudos têm destacado um padrão sistemático de menor distanciamento físico, vulnerabilidade territorial e segregação racial, afetando especialmente as pessoas negras nas chances de contágios e mortes”, diz a nota técnica.

Trabalhador em ônibus durante pandemia (Foto: Douglas Fontes)

Gênero e branquitude

Quando se comparam mulheres brancas e homens brancos, elas morrem menos de covid-19 do que eles em ocupações superiores. Segundo o grupo de pesquisa, isso acontece porque homens tendem a cuidar menos da saúde acumular riscos de comorbidades ao longo da vida.

Por outro lado, em cargos na base da pirâmide as mulheres brancas têm risco maior que homens brancos porque a diferença é menor nos cuidados com saúde, além de uma certa equivalência no acesso a programas de saúde. Mas esse risco é acrescido por homens brancos ocuparem posições de menor risco de exposição no trabalho, além da mortalidade materna influenciar nos resultados.

“Vale destacar que a pandemia tem sobrecarregado ainda mais as mulheres nas tarefas de cuidado com crianças e pessoas idosas que, por vezes, podem estar infectadas, o que aumenta o risco de contágio dessas em relação aos homens”, diz a nota.

Foto: Douglas Fontes

Já os dados sobre as mulheres negras evidenciam a desigualdade racial e de gênero de forma combinada. Entre as ocupações de nível superior, as diferenças significativas entre mulheres negras e homens brancos se encontram entre profissionais de enfermagem (com risco 23% menor para elas em relação a eles) e demais profissionais de saúde (risco de morte 91% maior para elas).

O estudo indica que os resultados em outros cargos do topo da pirâmide não expressam uma grande diferença, mas isso ocorre por uma sub-representação de mulheres negras nesses postos.

Já em ocupações de menor instrução, não apenas as mulheres negras têm maiores chances de mortalidade por covid-19 em comparação aos homens brancos em praticamente todas as ocupações de menor instrução, como também são maiores as chances em relação às mulheres brancas (única exceção é entre as trabalhadoras da limpeza urbana).

“Às disparidades de gênero que explicam as diferenças entre homens e mulheres brancas na base da estrutura, somam-se às disparidades raciais, mesmo quando exercendo as mesmas ocupações”, aponta o estudo.

Categorias profissionais

Entre as categorias, em números absolutos o setor de Comércio e Serviços perdeu 6.420 profissionais para a covid-19, seguido da Agricultura (3.384) e Transportes (3.367). Já as taxas relativas mostram que o impacto da covid-19 foi maior entre lideranças religiosas (44% das mortes foram causadas por coronavírus), profissionais da Segurança (25,4%), da Saúde (24%) e de Artes e Cultura (21,7%).

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