Mulheres periféricas lutaram contra a carestia nos anos 1970
Em plena ditadura militar, um movimento formado por mulheres das periferias de SP denunciou o alto custo de vida
Como pode um povo vivo viver nessa carestia? Como poderei viver dia e noite, noite e dia, com a barriga vazia?”
Entoando essa paródia de uma cantiga popular, no dia 27 de agosto de 1978 mais de 20 mil mulheres ocuparam a Praça da Sé para protestar contra a carestia
A mulherada tava toda na rua, enfrentando polícia, cachorro…”
lembra Ana Maria do Carmo, mais conhecida como Ana Dias
Moradora do Jardim Nakamura na época, ela foi uma das principais articuladoras do Movimento do Custo de Vida (MCV), também chamado de Movimento Contra Carestia
Criado nos salões de paróquias católicas nas periferias da zona Sul de São Paulo, o movimento ganhou ruas, escolas e fábricas
O grupo coletou mais de 1,3 milhão de assinaturas em um abaixo-assinado entregue ao Presidente da República, pedindo congelamento de preços dos alimentos
Naquele tempo, o Brasil vivia o “milagre econômico”, com crescimento de 11% ao ano entre 1968 e 1973. Porém, a riqueza não foi distribuída
Por que nasceu esse movimento? Foi da luta da panela vazia. Hoje o pessoal bate panela e não tem nada a ver”
diz Adélia Prates, que mora no Grajaú (Extremo Sul de São Paulo) e também participou
[A carestia] é uma coisa que a gente tá percebendo de novo neste momento, principalmente pra quem é assalariado ou está desempregado”
nota Ana Dias
A situação de hoje tem semelhança [com o passado], mas é uma vergonha porque o Brasil é um país rico”
aponta Adélia Prates
Reportagem e adaptação de texto Thiago BorgesDesign Rafael CristianoFotos Arquivo Pessoal e livro "livro “Como pode um povo vivo viver nessa carestia”