Quem está de fato conseguindo cumprir a quarentena e em que cenário? E quem não teve o isolamento social como opção?
A realidade da pandemia é diferente nas periferias e a desigualdade social, que já era um fato, apenas se agravou neste contexto e reflete de diferentes formas na vida de sujeitos periféricos.
Durante os últimos meses jovens moradoras e moradores das regiões de Poá e do Jardim Miriam se reuniram semanalmente por vídeochamada para o Curso Jovens Comunicadorxs Periféricxs, coordenado e facilitado pela Periferia em Movimento.
O objetivo foi ampliar o olhar sobre o jornalismo feito a partir de seus territórios. E como conclusão dos encontros, a missão era (mesmo à distância) produzirem de forma colaborativa um minidocumentário que trouxesse o consolidado de todo período de troca de saberes.
O projeto foi idealizado pela Uneafro Brasil e recebeu o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo.
Confira o resultado:
O caminho até o documentário
Aline Rodrigues, Pedro Ariel Salvador e Thiago Borges, da Periferia em movimento, se revezaram na facilitação das conversas com Joellen, Vitor, Stephany, Gleyson, Gabriel, Bruna, Damares, Julia, Mileni, Julio.
São jovens de 16 a 27 anos que compartilharam seus saberes e vivências durante os aprendizados de técnicas, conceitos, propósitos do fazer jornalístico periférico.
Discussões sobre o que é Jornalismo de Quebrada e como fazê-lo com as ferramentas e conhecimentos que já têm à mão, o que a sua vivência tem para contar, o que é notícia nas periferias e favelas, além de cuidados ao pensar cada linguagem de produção de conteúdo e a importância da escuta em todo o fazer jornalístico foram temas para a discussão durante os encontros e serviram como base para as decisões de caminhos para o documentário.
A cada encontro, os jovens recebiam o desafio de experimentar produzir conteúdos jornalísticos em vídeo, texto, áudio e foto, em sua maioria sem sair de casa.
Registro pelo celular para experimentarem falar de si
Eu e a pandemia
Antes de chegarem à proposta central da produção audiovisual, já no primeiro encontro receberam o desafio de produzirem um vídeo com seu próprio depoimento de como tem sido o período de pandemia e os principais desafios enfrentados.
O grupo se aproximou da produção audiovisual a partir de um primeiro passo do Jornalismo de Quebrada, que é o olhar para dentro e se perceber como um indivíduo repleto de histórias, valores, necessidades, sonhos.
Os desafios da maternidade na quarentena, as adaptações na rotina com as necessidades de cuidados extras, os planos de estudo e trabalho adiados, a falta dos amigos e do jogo de futebol, as dificuldades com as aulas à distância, a ansiedade, as dívidas e os dilemas de precisar trabalhar apesar de ter na família pessoas do grupo de risco estiveram presentes nas falas dos jovens.
O convívio com a família foi apontado como uma dificuldade, mas também como uma oportunidade de se conhecerem melhor. Também teve espaço para expressarem um certo otimismo de que tudo irá ficar bem e que percebiam mais tempo para fazerem o que gostam.
A escrita como registro da memória
Já na inscrição, os jovens indicaram seus interesses ao toparem fazer o curso e muitos citaram a possibilidade de contar mais sobre o que rola no território onde mora e circula. No desafio dado para escreverem, puderam falar dessas referências.
No encontro, compartilharam as dificuldades com a escrita e conheceram caminhos até chegar a escolha do melhor conteúdo jornalístico. Definir o que é e o que não é notícia, a importância de se pensar todas as pessoas envolvidas em uma publicação, a diferença do que é interesse do público e interesse público e o compromisso jornalístico com a apuração dos fatos e a escolha das fontes.
Horizontes em imagens
Com a comunicação pensada por meio da imagem, experimentaram registrar seus horizontes, concretos e subjetivos, por fotos a partir de dicas que receberam para a escolha do tema, percepção do olhar e uso dos recursos tecnológicos que têm à mão.
O poder da escuta
Após exercitarem olhar para dentro e para o que tinham para contar, os e as jovens participantes puderam refletir da igual importância de saber ouvir outras histórias e realizaram entrevistas com pessoas próximas para descobrir as motivações de fazerem o que fazem na sua rotina em casa, no trabalho, nos estudos e nas diferentes relações.
Os cerca de 20 conteúdos em vídeos, textos, áudios e fotos feitos nas atividades propostas foram uma oportunidade para que os jovens passassem a observar ou apurar o olhar sobre si e o território onde moram e circulam.
Também puderam repensar o entendimento de toda a estrutura social que opera e influencia no fazer jornalístico em diferentes realidades. E que fazer jornalismo a partir dos territórios periféricos tem a fundamental contribuição para uma sociedade mais justa de oportunidades ao tornar as pessoas mais conscientes de seus direitos e também reconhecerem sua identidade, trajetória e aprendizados como importantes para o todo.
A dedicação e comprometimento de todo o grupo foi fundamental para a realização do maior desafio que tiveram: a produção final do minidocumentário.
Divididos em diferentes funções, fizeram pesquisa sobre o tema, entrevistas e assumiram a edição e finalização do Quarentena pra Quem? Entre imprevistos e dificuldades dessa construção à distância, encontraram meios de atuarem e realizarem um projeto feito de fato coletivamente.
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