A extrema-direita vende a ideia de prosperidade para as periferias, enquanto vende a cidade e corta direitos da população mais pobre. Essa é a avaliação da educadora popular Naiara do Rosário, que mora no Parque Residencial Cocaia, distrito do Grajaú (Extremo Sul de São Paulo).
Aos 30 anos de idade, ela estreia em 2025 na Câmara Municipal como co-vereadora integrante da Bancada Feminista, um mandato coletivo do PSOL que é formado por mulheres de diferentes trajetórias.
O projeto coletivo foi eleito pela primeira vez em 2020, com 46 mil votos. Silvia Ferraro é a titular (isto é, ela é quem oficialmente representa o mandato, participa das comissões e votações), e na época o coletivo também contava com Dafne Sena, Natália Chaves, Paula Nunes e Carol Iara.
Em 2022, o movimento se ampliou e elegeu uma Bancada Feminista estadual com 260 mil votos com a Paula como titular, além de Carol Iara, Simone Nascimento, Mariana Souza e Sirlene Maciel.
E neste ano, o mandato municipal foi reeleito com menos votos que há quatro anos: foram 34,5 mil votos. Novamente, Silvia encabeça o grupo, acompanhada de Dafne, Letícia lé, Nathalia Santana e Naiara.
Apesar de bem sucedida, a eleição não significa caminho fácil nos próximos quatro anos.
Para Naiara, o período será de mais violência e militarização nas periferias com a parceria entre o prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB) e o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Para quem faz oposição ao governo a partir das periferias, o desafio é lidar com o avanço da extrema-direita em todo mundo e que, em São Paulo, se enraíza nas quebradas ao organizar aspectos da vida das pessoas.
“Eles se apresentam uma cara ‘antissistema’, mas na verdade são a representação mais crua dele, do neoliberalismo mais avançado, da uberização do trabalho, da ‘favela venceu’, justamente numa conjuntura de aumento do empobrecimento e de muita retirada de direitos e ajustes fiscais”, conta.
Das ruas à Câmara
Filha de militantes da luta antimanicomial e do trabalho de base, Naiara está na política desde cedo.
Ela cresceu entre atos, panfletagens, reuniões sindicais e de partidos. Em 2013, aos 19 anos, participou das chamadas “jornadas de junho” e se filiou ao PSOL.
Dois anos depois, começou a militar nos cursinhos populares da Rede Emancipa, onde foi coordenadora nacional e até hoje constrói o movimento, em especial no Grajaú.
Agora, a educadora popular amplia a atuação na política institucional e aposta nas periferias como centralidade da Bancada Feminista – desde o enfrentamento aos ataques à educação e a defesa de direitos e serviços públicos diante de velhos e novos desafios.
“A questão ambiental é urgente e, para nós, é central pensar uma cidade preparada pra emergência climática, principalmente nas periferias, onde mais se sofre com isso. Assim como a defesa da juventude, principalmente com o avanço da militarização com Tarcísio e Nunes”, conta.
Tudo isso permeado pelos ideais feministas, sempre.
Thiago Borges