Mulheres pretas criam pequenos negócios de autocuidado na periferia de SP

Mulheres pretas criam pequenos negócios de autocuidado na periferia de SP

Os empreendimentos Yabas, Yoga di Quebrada e Dança Afro com Paula da Paz se propõem promover a qualidade de vida nas periferias. Conheça!

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Tempo de leitura: 8 minutos

Por Julia Vitoria

Você cuida do corpo e da mente? Comandados por 3 mulheres pretas, os empreendimentos Yabas, Yoga di Quebrada e Dança Afro com Paula da Paz se propõem justamente a promover as práticas do autocuidado e a qualidade de vida dos moradores das periferias. Os projetos começaram na Zona Sul de São Paulo, mas atualmente já atingem outras regiões do País.

“Não é dado ao povo periférico tempo de cuidar de si, tempo de olhar pra si. Tempo de extravasar as dificuldades da vida em uma atividade artística, uma atividade física, pra fazer, pra se dar esse luxo”, observa Paula da Paz.

As iniciativas prestam serviços complementares ao Sistema Único de Saúde (SUS), que apesar de oferecer muitos desses tratamentos deixa outros de fora e tem uma grande fila de espera.

“Cuidar de si vem sempre por último né. Então a gente trabalha, de forma bem abrangente, buscamos ser um grupo bem abrangente que oferece a possibilidade de compartilhamento de vida”, conta Paula. 

Assim como outras 5,3 milhões de pequenas empresas brasileiras de acordo com o Sebrae, a pandemia do coronavírus também mudou o funcionamento desses pequenos negócios

Esta matéria abre a série Fortalece Quebrada, um projeto da Periferia em Movimento e da agência de comunicação Bora Lá para destacar empreendimentos criados por moradoras e moradores das periferias de São Paulo.

Conhecimento ancestral

O nome já diz muito. Nas religiões de matriz africana, as yabas são deusas do amor e da guerra representadas pela força da natureza e personificadas em entidades femininas. Com esse título de potência e responsabilidade, no início de 2020 Jennifer do Carmo Camargo, de 36 anos, criou o Yabas – A regeneração das mulheres pretas. 

Analista comportamental e estudante de Psicologia e Psicanálise, Jennifer se formou como coach e tentou aplicar as ferramentas com sua mãe, Clélia do Carmo Camargo.

“Mas minha mãe me responde que não faria, porque isso é para quem tem objetivo e sonho. Uma mulher extremamente talentosa e criativa pra tantas coisas…”, lembra Jennifer. “Com isso percebi o quanto as mulheres pretas mais velhas, que sustentam essa sociedade, não são educadas para perceberem a força e potência que são, vivendo por muitas vezes sujeitas a dores, traumas que paralisam seus desejos, sonhos e possibilidades internas de realização”.

Encontros virtuais do Yabas (foto: divulgação)

Voltado especialmente a jovens pretas de 16 a 20 anos, o Yabas propõe o autoconhecimento com uma metodologia própria. A formação se dá através de 4 encontros, 1 vez por semana durante 1 mês, com entrega de certificado ao final. Antes da pandemia de coronavírus, as rodas terapêuticas eram presenciais e, atualmente, os encontros são virtuais – inclusive com participação de mulheres do litoral paulista, do Rio de Janeiro e de outras pessoas que não conseguiriam acessar os processos presencialmente.

“Estamos falando de processo de desenvolvimento humano, que visa iluminar os recursos internos que essas mulheres já têm. Não estamos proporcionando nada ou criando nada, apenas buscando formas de fazer com que juntas nos enxerguemos de maneira mais justa e motivadora”, conta. 

Além dela, fazem parte da iniciativa Noemi Alves do Carmo, formada em Gestão de RH e Psicologia; e Romária da Silva Sampaio, especialista em plantas medicinais, fisioterapeuta e massoterapeuta.

Como funciona? | Quanto? Grátis (financiado com parcerias). Encontros aos sábados das 09h às 12h. Interessadas devem mandar nome completo, e-mail e contato para 11 97705-2263. Assim que as turmas forem sendo montadas, elas entram em contato. Turmas de março, junho, setembro e dezembro de 2021 já estão previstas. Atualmente os encontros estão sendo virtuais, com horários e dias já definidos.

Em busca de equilíbrio

Desde 2019, Simone Rodrigues já pensava em um projeto para promover o yoga nas periferias. O desejo se concretizou no início de 2020, com o projeto Yoga di Quebrada. “A minha motivação é poder compartilhar porque é muito urgente o acesso às práticas de autocuidado”, diz Simone, 34, que é formada em Hatha Raja Yoga. 

Yoga Di Quebrada (foto: divulgação)

Antes da pandemia, as aulas aconteciam de forma presencial e gratuita na sede da Agência Solano Trindade, no Campo Limpo. As atividades foram suspensas com o distanciamento social. Agora, com a retomada gradativa, Simone se preocupa em implementar valores acessíveis nas aulas, com novos formatos virtuais e ao ar livre.

“Eu tenho muitas expectativas e ideias pro futuro. Quero trazer outras atividades pro espaço além do Yoga”, aponta. “Eu tenho conversado com algumas pessoas para que a gente possa trazer atendimento terapêutico, atendimento nutricional, pilates Ayurveda porque são atividades que também são elitizadas, e essas pessoas que eu tenho conversado também, têm a mesma ideia”, completa.

Como funciona? | Aulas experimentais e gratuitas. Em breve, serão definidos horários, datas e valores. Fale pelo facebook ou instagram (@yogadiquebrada) ou envie mensagem para 11 94855-9947.

Dança da partilha

Paula da Paz, de 38 anos, tem experiência como professora de danças tradicionais brasileiras, samba rock e dança mandingue. E em 2018, começou no Campo Limpo a fazer uma vivência tendo a dança da Guiné como principal ferramenta.

Mas os movimentos em si não são o foco do aprendizado, e sim a criação dessa rede de pessoas, acolhimento e partilha de conhecimentos ancestrais. “Minha maior motivação é ter os processos artísticos vividos comungados de forma respeitosa, empática e revolucionária”, ressalta.

Vivência em danças africanas com Paula da Paz, antes da pandemia (foto: divulgação)

Manter o projeto não é fácil: falta apoio, investimento e acesso dos alunos. “Existe muito preconceito, existe o racismo que é uma coisa avassaladora pro País, então quando a gente traz uma oficina de dança africana existem várias estâncias de dificuldade. Tem os vizinhos que vão reclamar, que vão dizer que é só uma questão de barulho mas não é né, é o preconceito contra os tambores contra as expressões negras”, diz. Por isso, ela vê a própria turma como seus sócios, essenciais para incentivar a continuidade do projeto. 

Com a pandemia, o negócio foi muito prejudicado uma vez que a convivência é fundamental para sentir o pulso dos músicos. Algumas alunas desistiram dos encontros, enquanto novas adeptas chegaram. Com o tempo, porém, ela conseguiu produzir os áudios e hoje faz os encontros pela plataforma Google Meet.

Como funciona? | As aulas acontecem às quintas, às 20h, via google meet. As pessoas interessadas devem mandar uma mensagem para 11 97473-9506. O pagamento é feito antes e acordado na hora do contato, a depender das condições financeiras da pessoa.

3 Comentários

  1. Karina disse:

    Quanta mulher inspiradora!

  2. Vilma Cezar de Andrade disse:

    . muito lindo o trabalho de vcs….☺️
    Si estou muito orgulhosa do trabalho que está fazendo “eu te amo minha irmãzinha

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