Travesti não é bagunça

A arte-educadora e artista Xan Marçall reflete sobre a condição de pessoas trans e travestis no Brasil atual

Aos 36 anos, a kaaboka amazônida de Mairi do Pará ultrapassou a "expectativa de vida" para pessoas como ela no País, cuja média é de 35 anos. Leia as reflexões a seguir:

Dia 29 de janeiro de 2004, mulheres trans, travestis e homens trans, foram em Brasília lançar a campanha “Travesti e respeito”

Este ato, em pleno Congresso Nacional, marcou a história do movimento contra a transfobia, na luta pelo direito à vida e a participação na partilha social

Pessoas Trans e Travestis têm corroborado na reelaboração de práticas da vida pública e privada, orientando perspectivas outras para pensarmos corpo, gênero, desejo, sexualidade e modos de vida

Não somos bagunça! Mas conhecemos o Caos. Se engana quem pensa que o mundo é essencialmente binário

Graças em especial ao Movimento de Travestis na América Latina, temos redescoberto e compreendido modos de vida que transbordam a bipolaridade sexual e de gênero em diferentes culturas e tempos

O que a história oficial não permitiu que fosse contada nunca deixou de existir, mas continuamos sendo perseguidas, vigiadas… um perigo contra o Sistema Colonial e Capitalista

Tenho refletido sobre esse momento de crise que estamos vivendo no País e tenho acreditado que esta é, contraditoriamente,  a oportunidade ideal para fomentarmos novas produções de saberes

O reencantamento  do Brasil está nas  práticas e saberes ancestrais que permanecem vivos no Norte e Nordeste brasileiro, orientados por cosmovisões afroindígenas

Que possamos enaltecer a presença de diversas trans e travestis nortistas e nordestinas que nos abriram  e abrirão as portas do futuro

Um futuro que se debruça sobre Imagens de prosperidade, saúde, beleza, dinheiro, abundância. Encantamento

Adaptação de texto  Thiago Borges Design  Rafael Cristiano Texto  Xan Marçall