Solidão e sofrimento

Fome, miséria e sucateamento de políticas públicas aumentam pressão sobre serviços especializados em saúde mental

O educador físico Rodrigo Carancho é categórico: Nossa sociedade produz solidão e sofrimento mental

Ele é gerente do Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Outras Drogas (CAPS AD) no Grajaú, Extremo Sul de São Paulo

O serviço de saúde da Prefeitura tem notado uma procura crescente de pessoas que não necessariamente fazem uso problemático de álcool e outras drogas, que seriam o público prioritário

Isso tem a ver com um plano de produção de crise, de violência, de exclusão, de segregação, de racismo e que bate na nossa porta todo dia”, observa Rodrigo

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental se dá com o equilíbrio entre saúde física, emocional e o bem estar social – algo complexo de se atingir, considerando classe social e as questões de raça e gênero

Rodrigo define saúde mental como a capacidade de desejar. “Tem a ver com a capacidade de criar, de compreender os seus limites e negociar com eles"

Ao contrário do senso comum, saúde mental não é meramente o oposto da doença. Ela está relacionada a aspectos sociais que produzem sofrimentos

Isso é fruto de um projeto social que não privilegia a promoção da saúde e se reflete diretamente em populações periféricas ou de regiões mais afastadas dos grandes centros

Há uma solidão intensa por trás disso, fruto do desamparo – seja por uma rede de apoio familiar ou de amizade, ou seja pelo próprio Estado, que não alcança essas pessoas por meio de políticas públicas

Toda essa miséria produzida e todo esse modo de funcionar do governo, que é violento, vai chegando na nossa porta produzindo doenças e sofrimento na população”, salienta Rodrigo.

Hoje, os CAPS são divididos em categorias e níveis de complexidade. Na cidade de São Paulo, existem 97 unidades do serviço, que atendem com acolhimento parcial ou integral