Dona Lourdes cura as dores do mundo com ervas, brasa de fogo e amor no coração
Com mais de 8 décadas de vida, Maria de Lourdes Souza já passou muito perrengue na vida: da fome à migração forçada até a morte de alguns filhos
Mas ela sempre manteve a fé na proteção divina. E hoje, olha pra gente com piedade. “Vocês não vivem. Quem viveu fui eu”, sentencia.
A culpa não é do mundo, mas das pessoas: a ganância pelo poder, os agrotóxicos que envenenam a comida, as relações frágeis que estabelecemos entre nós…
Tudo isso, alinhado à estrutura racista e genocida, desperta pena em Dona Lourdes. “Se eu pudesse, eu consertava o mundo”
Nascida em Ponte Nova, no interior de Minas Gerais, ela também morou em Cruz das Almas, na Bahia. Foi ainda na infância que seu dom da cura começou a se manifestar
Em 1970, veio pra capital paulista num comboio de 11 pessoas: além dela, o marido, 02 cunhadas, 07 filhos e 01 idoso doente. Durante anos a família dividiu uma casa de 02 cômodos no Jardim Mirna
Com as dificuldades, o dom da cura por meio do benzimento ficou em segundo plano – até que a necessidade do povo em volta novamente se colocou em seu caminho
Hoje, ela mora em um sítio no Jardim São Norberto, região de Parelheiros, e recebe poucas pessoas. No quintal, planta as ervas que usa para benzer ou fazer garrafadas
Num quartinho, ficam as imagens de santos e divindades protetoras, para quem acende velas e deposita os pedidos de quem procura sua ajuda
Dona Lourdes não cobra pelos atendimentos. Não mercantiliza a fé. Simplesmente, obedece o que ancestrais “sopram em seus ouvidos”. O milagre é dádiva
TextoThiago BorgesDesignRafael CristianoIdealização, pesquisa e reportagem Lucimeire JuventinoImagens Pedro Ariel Salvador