Ivoni Campos, uma cis aliada da população trans

Manicure desempregada, em 2020 Ivoni Campos perdeu o filho trans para a depressão. Desde então, apoia outras pessoas trans e familiares a enfrentarem um mundo de discriminação

Demétrio cometeu suicídio em 17 de maio de 2020. Para a comunidade trans, ele foi "suicidado", termo utilizado para se referir a situações em que a discriminação se torna fator que estimula o ato

Ivoni se tornou uma "cis aliada", como são chamadas as pessoas cisgênero que se engajam na luta da população trans

Depois que Demétrio faleceu, ela assumiu as redes sociais do filho com o intuito de manter sua memória viva

Aos poucos, suas publicações e lives chamaram a atenção de mais pessoas trans, que a procuravam para pedir conselhos, ajuda ou mesmo conversar

“As pessoas me procuram pelo WhatsApp, pela DM do Demétrio, às vezes por questões de moradia, cesta básica, depressão"

Certa vez, “um menino do Nordeste” que já havia retificado seu nome e retirado as mamas ligou para ela porque a mãe ainda não o chamava pelo nome retificado. Ivoni ligou para ela

A mulher chorou, chorou, chorou e eu falei pra ela: 'olha só, se você não amar o seu filho, se você não cuidar dele, se você não respeitar ele, o mundo lá fora vai matar ele'"

Ivoni percebeu desde sempre que Demétrio era diferente. Por volta dos 15 anos, percebeu o sofrimento do filho e passou a agir para protegê-lo por ser trans, preto e periférico

Eles sofrem antes da transição, sendo sapatão. Depois, apanham da polícia, são desrespeitados dentro de locais públicos, privados, no trabalho. Então, é como se alguém te esfaqueasse várias vezes"

No ano em que Demétrio morreu, o primeiro da pandemia de coronavírus, a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) registrou 23 casos de suicídio, sendo 7 de homens trans e transmasculinos

Em 2015, o pelo projeto Transexualidades e Saúde Pública no Brasil, da UFMG, revelou que 85,7% dos homens trans já pensaram em cometer suicídio

Para evitar que novos casos aconteçam, Ivoni segue na luta e articulada com organizações e movimentos

No último 28 de junho de 2022, dia do Orgulho LGBTQIA+, ela participou de uma cerimônia na Fiocruz (RJ) para receber a certidão de nascimento com o nome de Demétrio retificado

Reportagem  Pedro Ariel Salvador Adaptação  Thiago Borges Design  Rafael Cristiano Fotos  UOL / Redes sociais