Eu escolhi transar. E agora?

De gravidez precoce a Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), jovens de periferias colecionam dúvidas sobre métodos de prevenção

Quando fui transar, o meu parceiro perguntou se podia colocar a camisinha, e eu aceitei sem saber exatamente por quê. Ele me explicou que seria para evitar uma gravidez e só”

A fala da página anterior é de Thamyres Cristina, 23 anos, moradora do Jardim Peri (zona Norte de São Paulo). Ela perdeu a virgindade aos 17 com medo de engravidar

A preocupação com a gravidez precoce é pertinente, ainda mais entre jovens de periferias. O Mapa da Desigualdade aponta um índice maior de gravidez entre adolescentes em distritos periféricos

A questão é utilizada para justificar propostas que defendem a abstinência sexual como método contraceptivo eficaz – o que é apontado por movimentos como algo baseado em crenças religiosas

Acontece que “escolher esperar” não é um método de prevenção eficaz quando é natural que boa parte da juventude escolha “transar”

Geralmente, jovens se preocupam somente com gravidez e muitas vezes não conhecem as ISTs ou não sabem a gravidade"

explica a assistente social Célia Barreto

Eu sabia que era IST, mas não exatamente qual era por medo. Eu pensava que meu pau iria cair"

G.R, 26, de Itaim Paulista (zona Leste). Ele acha que pegou candidíase, mas não teve diagnóstico

Apenas 22,8% das pessoas acima de 18 anos usaram preservativos em todas as relações sexuais. Outras 73,4% dizem não usar porque confiam em seus parceiros

Esses dados são apontados pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, divulgada em maio de 2021 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

Na comunidade LGBTQIA+, as informações transitam de 8 a 80: os métodos de prevenção passam a ficar ainda mais complexos

"Fui em 3 ginecologistas, e os 2 primeiros não conseguiram ‘ou não quiseram’ prestar atendimento, afirmando que não tive uma relação sexual ‘normal’"

C.L, 24 anos, moradora do Grajaú (Extremo Sul)

C.L é lésbica e contraiu HPV compartilhando brinquedos sexuais sem proteção. Só na terceira tentativa que ela foi atendida devidamente

Na zona Leste de São Paulo, o Coletivo Cinemateus atua com campanhas para falar de métodos de prevenção e indicar os serviços públicos de saúde que abordam o assunto. 

Texto final de Thiago Borges Design Rafael Cristiano Reportagem de Letícia Padilha Colaboração de Fernanda Souza Orientação Gisele Brito