Aonde mora  o afeto? Uma busca constante na vida de pessoas periféricas

A busca e o encontro de um lar, as relações que se constróem em torno disso e situações externas podem determinar  permanência  ou movimento

Em todo Brasil, até 2019 faltavam 5,9 milhões de moradias para resolver o problema da habitação básica

Isso inclui casos de

1 - Coabitação

quando pessoas têm de conviver involuntariamente e aglomeradas na mesma casa (23% dos casos)

2 - Situações de precariedade habitacional

quando famílias vivem em domicílios rústicos e improvisados, como barracas, locais impróprios pra morar ou feitos de material não adequado (25% dos casos)

3 - Gasto excessivo com aluguel

quando as pessoas precisam destinar mais de 30% da renda de até 3 salários mínimos para pagar a casa (quase 52% dos casos)

Homem negro, homossexual e queer, o analista de call center Denis Monteiro, de 30 anos, segue em busca de um lar pra chamar de seu

Nascido em Diadema (SP), ele já morou no Jardim Luso (zona Sul da capital paulista), na Bela Vista (centro) e voltou para a casa da família, no Vargem Grande (Parelheiros, Extremo Sul)

Porém, por ser um local onde o custo de vida é muito caro, se viu tendo que voltar a morar com a família, na região de Parelheiros, extremo sul da cidade

Já Luíze Tavares, 25, passou por várias casas pela zona Sul de São Paulo. Nascida no Parque Santo Antônio, ela viveu a infância no Grajaú, em uma habitação própria construída em um lote irregular

Com a vida adulta, os trabalhos e estudos, a comunicadora e uma das criadoras do festival Perifacon sentiu a necessidade de morar em um lugar mais fácil para sair e chegar em casa

Por isso, há alguns anos, ela deixou a casa própria (porém, irregular) para viver com a mãe em um imóvel alugado no Parque Arariba, mais próximo de uma estação de metrô

O plano sempre foi deixar o aluguel. E recentemente ela conseguiu financiar um apartamento em Santo Amaro por meio do Casa Verde Amarela, programa do governo Bolsonaro

E Márcia Licá, 37, luta para permanecer no território que constituiu. Natural do interior do Tocantins, há 25 anos ela vive na favela Real Parque, zona Sul de São Paulo

A galera rica aprende a conviver quando vai para uma universidade, que talvez vai morar numa república. A gente desde muito novo constitui repúblicas, quilombos, comunidades para poder sobreviver”

Em sua trajetória, a coordenadora de conteúdo e especialista em literatura infantil já viveu em barracos precários até uma casa na Vila Sônia

Agora, mãe solo de uma bebê de 2 anos, ela não apenas mora mas luta por melhorias na quebrada em que estabelece conexões de afeto, com reivindicação de creche e posto de saúde

Adaptação de texto  Thiago Borges Design  Rafael Cristiano Reportagem  Fernanda Souza, Letícia Padilha e  Paula Sant'Ana Imagens  Pedro Ariel Salvador  e Vitori Jumapili