Bairro forjado na resistência, Jardim Helian se mobiliza contra a fome na zona Leste de SP

Bairro forjado na resistência, Jardim Helian se mobiliza contra a fome na zona Leste de SP

O colaborador Leonardo Siqueira acompanhou a distribuição de cestas básicas numa quebrada da ZL paulistana. Com inflação, desemprego e fome, a ação emergencial organizada pela própria comunidade ameniza o cenário enquanto governo se omite

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Por Leonardo Siqueira (colaboração para Periferia em Movimento)

Fotos: My.Lamb3. Edição de texto: Thiago Borges

Em 1976, foi inaugurado um dos maiores parques da cidade de São Paulo: o Parque do Carmo, localizado na Zona Leste paulistana. O espaço, que era uma fazenda, foi transformado em área pública pela Prefeitura após a morte de seu antigo proprietário. E ao lado deste parque, pessoas vindas de várias regiões do País fundaram o Jardim Helian – muito mais que um bairro “dormitório”, é um bairro de resistência.

Nesse território, a população lutou contra um aterro sanitário que ameaçou as nascentes do rio Jacu. Depois, o bairro se juntou a docentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para cobrar soluções do poder público em relação ao escoamento de água da bacia do córrego Tone, que flui por baixo das casas. E em 2016, moradores conseguiram a Unidade Básica de Saúde (UBS).

Esses processos de urbanização são conquistas coletivas que têm a Associação de Moradores e Amigos do Jardim Helian como principal representante. E no momento presente de crise econômica e social, o grupo se mobiliza para algo urgente: o combate à fome.

No último dia 23 de novembro, uma terça-feira, a reportagem acompanhou a distribuição de 200 kits de alimentos para 200 famílias da comunidade. Articulada pela associação junto à Cooperativa Central e Fundação Banco do Brasil, a ação entregou kits com 4 sacolas com: arroz, feijão, banana, maçã, laranja, batata doce, cenoura, chuchu, abobrinha, beterraba, acelga e repolho.

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A Cooperativa Central agrega 12 instituições de produção que trabalham exclusivamente com agricultura familiar. São em torno de 15 mil famílias que, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), conseguem fornecer alimentação escolar para todo o Estado de São Paulo.

“Essa ação que nós estamos aqui realizando hoje […], ela tem que ser um start para aumentarmos essa conexão entre agricultura e a cidade, nesse momento de pandemia, nesse momento de desemprego, e nesse momento de fome!”

Isnaldo Lima, coordenador da Cooperativa Central do Vale do Ribeira

Ação emergencial

A fome atingiu 19,1 milhões de pessoas no Brasil em 2020, segundo dados da Rede Penssan. Estima-se que esse número tenha crescido em 2021. No Mercadão Municipal de São Paulo, pessoas foram vistas procurando ossos de carne na caçamba para comer.
Desde o final de 2020 os alimentos básicos tiveram um grande aumento, como o arroz que ficou 69% mais caro e a batata que subiu 47%, segundo dados do IBGE. Com ações brutais do governo Bolsonaro e o aumento da inflação, o Jardim Helian segue se organizando e resistindo. A ação aparece como um pequeno respiro para os moradores da comunidade.

Moradora levando kit com alimentos (foto: My.Lamb3)

Depois de pegar o seu kit, o morador João Carlos é questionado se aquilo vai suprir sua necessidade: “Orra! Sem dúvida nenhuma! Não seria nem tanto para mim. Eu tenho 11 netos. Tô pegando para levar para eles, que é a única forma que eu posso ajudar”.

Já Maria Aparecida da Silva comenta o quão difícil está sendo o ano. A residente do bairro tem um filho com deficiência que teve seu benefício cortado. Por meio de uma medida provisória no início de 2021, o governo alterou os critérios para recebimento do BPC (Benefício de Prestação Continuada), no qual as famílias que têm uma pessoa com deficiência ou idosa não podendo se manter ou ser mantidos pela família, recebiam um auxílio do governo.

Antes da medida, as casas com até meio salário mínimo per capita podiam receber o auxílio. Depois de janeiro desse ano, o critério passou a ser de um quarto do salário-mínimo, deixando mais de 500 mil pessoas sem o auxílio. Uma delas é o filho de Maria Aparecida.

Edson Pardinho, voluntário na Associação do Jardim Helian e organizador da ação, conta que para suprir as lacunas deixadas pelo Estado ele buscou ajuda primeiramente para auxiliar na criação de uma cozinha comunitária no bairro; depois, surgiu a possibilidade de fazer a ação de distribuição dos kits junto aos agricultores familiares.

“Além da distribuição para as pessoas que estão mesmo em situação de vulnerabilidade, nós conseguimos conversar com os doadores e ampliar a ação de hoje, conseguindo com que eles se comprometessem com um novo freezer para a associação de moradores”, completa Pardinho.

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