Futebol e periferia: entre a alienação, identidade e luta social

Na periferia de São Paulo, com forte da várzea, moradores levantam um questionamento: é possível tornar o futebol um elemento de luta social?

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Por Paulo Motoryn, na revista Vaidapé

Muito se diz que o futebol é um dos grandes fatores de alienação do povo. O efeito catártico do esporte e o fanatismo da população brasileira sempre foram encarados como entrave ao desenvolvimento de um pensamento crítico e politizado. Na periferia de São Paulo, onde se adiciona ao assunto a forte cultura do futebol de várzea, iniciativas dos moradores incrementam a discussão e levantam um questionamento: é possível tornar o futebol um elemento de luta social?

O tema foi discutido em uma roda de conversa no Museu do Futebol, no Pacaembu, como parte da programação do Encontro Estéticas das Periferias, no dia 31 de agosto. Mais de 50 pessoas compareceram ao Auditório Armando Nogueira, em debate que teve a moderação do documentarista Carlos Carlos, que exibiu o filme “Fut Mídia S/A” (2005) logo antes do bate-papo.

O documentário trouxe ao debate questões relevantes. Ao confrontar visões completamente antagônicas de jornalistas sobre a relação do futebol com a mídia e o mercado publicitário, ilustrou a conversa com críticas à cobertura jornalística do tema nos grandes veículos de comunicação, em grande parte despolitizadas e privilegiando o entretenimento à informação.

Também crítico à total absorção do futebol profissional pelo mercado, o escritor e cineasta Akins Kintê, diretor do filme “Várzea” (2010), participou do evento com uma camiseta de uma das torcidas organizadas do São Paulo, a Independente, e justificou: “As organizadas podem ter um papel nesse processo de lutar contra os mandos e desmandos da Globo e das confederações”.

A inserção do futebol no modelo neoliberal da sociedade e o papel da mídia corporativa não foram os únicos temas discutidos. Marco Pezão, um dos fundadores do Sarau da Cooperifa e fotógrafo de várzea desde 1995, valorizou a prática amadora do esporte na periferia como um fator fundamental de luta e identidade cultural e ainda recitou poesia sobre o assunto em que um dos versos era repetido como um mantra: “Nóis é ponte e atravessa qualquer rio”.

Um dos exemplos vivos da possibilidade de aliar ação política e futebol estava ali presente: Matusa, do Autônomos Futebol Clube, time de várzea com inspiração anarcopunk. Com uma modelo de gestão com inspiração anarquista, a autogestão, o Autônomos disputa torneios pela periferia de São Paulo levantando bandeiras contra a homofobia, o racismo e o machismo, por exemplo.

“Somos articulados com movimentos sociais da cidade, como o MPL, e acreditamos que o fato de o futebol agregar tanta gente significa uma ótima oportunidade para fazer questionamentos”, afirma Matusa, que comemora a receptividade do Autônomos em comunidades vizinhas: “Todo mundo nos trata bem e não têm preconceito com os nossos cabelões e estilo diferente. É um excelente sinal”.

Além da discussão, uma exposição de camisas de futebol de várzea e uma mostra de filmes sobre o tema completaram a programação do Estéticas das Periferias no Museu do Futebol, no Pacaembu.

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