Financiamento e sustentabilidade, o desafio da cultura independente

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Por Antonio Amaral, na revista Vaidapé

Com um investimento total de R$ 8 milhões da Secretaria Municipal de Cultura, a Virada Cultural é o evento que mais abrange atrações e recursos direcionados ao setor cultural da cidade. O evento conta com as grandes atrações do momento e o público pode assistir a tudo isso de “graça” por toda a cidade, com funcionamento de 24 horas por dia dos transportes públicos.

A grande questão debatida envolve a capitalização da cultura. O governo disponibiliza de meios de financiamento e incentivos para as pequenas e grandes produções culturais. Mas a partir do incentivo, as produções antes independentes passam a ser enquadradas pela burocracia do sistema, de acordo com Luciana Lima, elaboradora da proposta do Bolsa Cultura. Luciana acredita que a lógica que desvaloriza o trabalho cultural tem que mudar. “O incentivo fiscal não está ai para incentivar a periferia e esse conceito caótico onde as grandes empresas decidem para onde o dinheiro público é investido tem que mudar”, concluiu.

Segundo Valério Benfica, membro do Ministério da Cultura, a cultura como um bom negócio já foi mote do ministério a dez anos atrás. “O estado tem que estar presente. A cultura não deve abrir mão da renúncia fiscal”, completou. A estrutura burocrática que serve aos donos do poder é trivial, visto que se o Ministério da Cultura pretende investir na diversidade cultural, são estas diversas formas de produção que terão que se adaptar as normas do Estado. Essa adaptação consiste em abrir contas bancárias, acessar a internet, registro de empresa e todos outros papelórios que só afastam a população de editais públicos. “Desta forma o Estado está abolindo o primeiro mecanismo básico de qualquer cidadão brasileiro que é a liberdade de expressão”, completou Luciana Lima.

A cultura em sua valorização artística e independente encontra-se a cada dia mais submetida a um sistema que não condiz com a sua perpetuação na sociedade. As tentativas de buscar um financiamento alternativo são uma forma de estar buscando espaços e novas formas de financiar a cultura. Foi o que relembrou Lívia de Tomassi, professora adjunta do Departamento de Sociologia da Universidade Federal Fluminense.

De origem italiana, Lívia contou que antigamente em seu país existiam teatros públicos que financiavam produções independentes. Os próprios atores eram os agentes transformadores e se financiavam coletivamente para manter o teatro, que, por falta de verbas, deu lugar a shoppings e mercados. “O problema do Brasil é a desigualdade. Como é que o Estado financia a Virada Cultural, gasta com a reforma de teatros e não investe em centros culturais?”, finalizou Lívia.

A questão dos editais, crowdfunding, financiamento coletivo e demais alternativas não aparecerem como uma solução definitiva para o problema abordado. “Não há uma única solução, assim como também não dá mais pra depender apenas de editais, ou crowdfunding, investidor privado ou incentivo fiscal. A solução é a junção de todas as alternativas”, propõe Valério Benfica.

Na visão de Thiago Vinicius, membro da Agência Solano Trindade, e de Bárbara Trugillo do Movimento Baixo Centro, os coletivos não devem esperar ajuda do estado e devem pensar em meios alternativos para o financiamento de seus projetos. O capitalismo impondo a cultura como um produto é o que não deve acontecer. “Não somos pobres, somos empobrecidos. Todo mundo na quebrada gera renda, mas faz compras fora da periferia”, disse Thiago.

Portanto, consumir dentro do bairro estimula o mercado interno e é uma forma de trabalhar a questão do fomento à cultura sem a subalternação do estado. Cabe agora aos produtores de cultura independente pensarem em uma maneira de se financiar e de disseminar a vasta bagagem cultural brasileira por todo país.

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