EDITORIAL: Nem dia 16, nem dia 20. Por quem nossas panelas batem

EDITORIAL: Nem dia 16, nem dia 20. Por quem nossas panelas batem

Em semana de manifestações contra e pró-governo Dilma, a gente decidiu ficar em casa. Nossas panelas batem pelas vítimas e familiares da marcha genocida

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Por quem você bate suas panelas?

Qual “democracia” você defende?

Neste domingo (16 de agosto), puxados por grupos da direita, milhares de pessoas saem às ruas do País para protestar contra o governo federal e pedir o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Na quinta (20), outros tantos vão defender a administração petista e a democracia.

Nós ficamos em casa.

De um lado, vemos integrantes da elite e da classe média alta que usam o combate à corrupção como desculpa para evitar a perda de seus privilégios garantidos ao longo de 500 anos. Marcham ao lado de políticos da época da ditadura, velhas raposas que há muito tempo passam a mão nos cofres públicos, e de quem representa os interesses do neoliberalismo. Muitos defendem intervenção militar e tiram foto com a família ao lado da Tropa de Choque.

Do outro lado, governistas denunciam um suposto golpe a um governo que foi reeleito ano passado com a promessa de ampliação das políticas sociais, mas que na prática aplica um ajuste fiscal que prejudica a população pobre, se alinha a nomes como Renan Calheiros e já defende a aplicação da chamada “Agenda Brasil”, um conjunto de propostas que atende justamente aos interesses dos grandes empresários, como a cobrança de procedimentos médicos no SUS e a revisão dos marcos jurídicos que protegem terras indígenas. Leia aqui.

Enquanto isso, aqui embaixo o sangue continua escorrendo pelos becos e vielas.

O Brasil mata mais de 50 mil de seus filhos por ano – mais da metade entre 15 e 29 anos, e desse total 77% são negros. Boa parte deles vive nas periferias das grandes cidades. Mas tudo parece natural.

Na última quinta (13 de agosto), 18 pessoas foram assassinadas em periferias de Osasco e Barueri, na região metropolitana de São Paulo. Foi a maior chacina de um ano em que mais de 70 foram mortos em ações de extermínio e a segunda maior da história do estado de São Paulo, governado por Gerado Alckmin do PSDB.

Os indícios sugerem uma “revanche” de policiais: a morte de um PM e um guarda civil dias antes da chacina; mensagens trocadas em grupos do WhatsApp; e a abordagem das vítimas pelos assassinos, que segue um padrão militar.

Apesar do secretário da Segurança Pública, Alexandre Moraes, apontar diversas linhas de investigação, o site Ponte revela que a Corregedoria da Polícia Militar entrou na investigação desses ataques. http://ponte.org/corregedoria-da-pm-investiga-ataques-que-mataram-18-pessoas-em-osasco-e-barueri/

Para os familiares e amigos, ficam a indignação e a descrença.

Entre as testemunhas, está uma bebê de dois anos, que chegava em casa com os pais quando um dos assassinos passou atirando contra um rapaz. Olhar paralisado, dormiu muda e acordou perguntando sobre o corpo, que só foi retirado após 12 horas e amontoado com outros cadáveres no carro da Prefeitura de Osasco.

A mãe de uma das vítimas disse que não vai vestir camiseta branca com a foto do filho nem pedir justiça. Vai continuar seus corres, porque não tem ninguém para ajudá-la.

Não temos direito a luto e falar sobre as mortes pode ser perigoso, principalmente quando o estado é o principal suspeito.

E nessa última noite, mais um homem foi assassinado e outro ferido em Parelheiros, no Extremo Sul da capital paulista, onde meses atrás uma chacina deixou 13 mortos. Os tiros foram disparados por um encapuzado num carro preto.

Daqui, não ouvimos os sons das panelas, nem a defesa da democracia para todos. Silenciosamente, só podemos recorrer a nós mesmos. Afinal, na quebrada não dá pra tirar selfie com a polícia e democracia ainda é promessa. Para nós aqui, a ditadura continua. Seguimos lutando!

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