Aldeias guaranis lutam por território na cidade

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Por Thiago Borges

Fora da área urbana, o município de São Paulo tem três territórios indígenas demarcados pela Funai em favor do povo guarani: o do Jaraguá, com 800 moradores, na zona Noroeste da cidade; o Tenondê Porã e o Krukutu, com mais de 1.000 habitantes, no Extremo Sul.

Nessas terras indígenas, as comunidades contam com serviços públicos, como Centros Educacionais de Cultura Indígena (CECIs), escolas indígenas, postos de saúde especializados e os moradores recebem recursos como Bolsa-Família – benefícios complicados de serem obtidos pelos quase 12.000 índios que vivem em favelas e bairros periféricos de São Paulo.

Porém, apesar da assistência, a vida nas aldeias continua difícil.

Na região noroeste da cidade, aos pés do Pico do Jaraguá, está localizada a menor terra indígena do Brasil. Cerca de 800 guaranis se aglomeram em um pedaço de chão com menos de dois hectares, sem local para plantar, com água contaminada e muitos animais abandonados.

Localizado em uma área urbanizada, o território é dividido em duas aldeias cortadas ao meio por uma avenida: a Tekoa Pyau (a de cima, maior e mais conhecida) e a Tekoa Itu (a de baixo, menor).

Os primeiros guaranis chegaram ao Jaraguá há mais de 40 anos. Depois disso, construíram a rodovia dos Bandeirantes ao lado e a população não-índia (os juruás) começou a chegar.

Na Tekoa Itu, os guaranis batalham pela preservação de sua cultura – ponto fundamental para a vitória, segundo o professor indígena David Martim.

A língua é o primeiro passo: jovens da aldeia desenvolveram um projeto para ensinar aos mais novos os costumes guaranis, como danças, músicas e o idioma. As aulas que acontecem diariamente na Casa de Reza em breve devem ganhar um espaço próprio: o centro cultural que pretendem construir.

Mas a luta pela terra é urgente.

Não há cultura, não existe saúde, não existe sustentabilidade sem território”, ressalta Jerá Guarani, professora e liderança interna da aldeia Tenondé Porã. “Nossa luta sempre foi para proteger as nossas áreas.” A aldeia tem 60 anos e é demarcada em 26 hectares. Com “influência” da sociedade, o povo mantém sua tradição como forma de defesa.

Em outubro, mais de 300 visitantes passaram pela aldeia, quando os guaranis promoveram uma feira de artesanatos, além de desfile e coral das crianças, entre outras atividades culturais. O encontro se deu em meio à tensão devido à ocupação de um novo território pela comunidade.

Segundo a Jerá Guarani, dos anos 1970 ao início dos 1980 uma família guarani viveu onde hoje se constrói a aldeia Tekoa Eucalipto, e algumas crianças nasceram no local.

Ainda assim, em novembro do ano passado um homem e uma mulher na garupa passaram de moto atirando em direção aos indígenas da aldeia, no mesmo instante em que os indígenas colocavam uma placa de identificação na porteira de entrada.

Próximo dali, fica outra aldeia: a Krukutu, localizada às margens da represa Billings. Com 25 hectares, o local foi demarcado em 1987, quase quatro décadas após a chegada dos primeiros moradores.

Aberto em 2000, o posto de saúde divide espaço com pajés e a casa de reza. Nas duas escolas públicas, crianças têm aulas com professores guaranis com os quais aprendem o idioma materno, caminham em trilhas na mata fechada e participam de pescarias. Diretores, coordenadores e demais funcionários também moram na aldeia.

O serviço público é a principal fonte de renda desses índios, além da visita de turistas. Como nas demais aldeias, a Krukutu tem pouco solo disponível para plantar. Por isso, os guaranis precisam comprar alimentos a 10 km de distância e há famílias que já passaram fome.

Até algum tempo atrás, a gente tinha crianças desnutridas porque faltava comunicação [entre as mães e as lideranças]”, explica o cacique Luiz Carlos Karai, que expõe as dificuldades da aldeia.

Pela internet, Karai e outros líderes articulam e divulgam atividades para mudar a realidade local. Um deles é o escritor Olívio Jekupé, que começou a rascunhar seus primeiros textos em 1984.

Sempre achei que é muito importante a literatura escrita por índios”, diz ele. “Tenho certeza que estou ajudando muito os professores e as crianças que leem os livros, pois eles aprendem melhor sobre a cultura indígena”.

Hoje, Jekupé tem 13 livros publicados no Brasil e no exterior, além de participar de palestras e encontros literários e influenciar outros indígenas a escrever.

Para o cacique Karai, a luta está longe de acabar. Há 500 anos, a gente segue resistindo para manter nossa cultura no Brasil”, conclui.

PRÓXIMA REPORTAGEM: Travestis e Transexuais conquistam direitos, mas onde elas e eles estão? A luta continua pelo reconhecimento e respeito da sociedade.

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