A quebrada é meu parquinho

Reportagem do projeto #NoCentroDaPauta aborda direito de brincar nas periferias

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Pega-pega, esconde-esconde, amarelinha, adoleta, pular corda, jogar bola, empinar pipa…

Em meio ao avanço das tecnologias digitais, brincadeiras antigas resistem dividindo espaço com jogos no tablet ou celular entre crianças das periferias. Em cima da laje, no campinho de terra ou no meio da rua, a quebrada é o parquinho de muita molecada.

A Periferia em Movimento foi a três espaços frequentados por crianças nas quebradas da Zona Sul de São Paulo para saber delas sobre o que mais gostam de brincar e o que ainda precisa ser feito para melhorar isso. Confira no vídeo:

Prestes a completar 29 anos de sua promulgação, agora neste sábado (13 de julho), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece em seu artigo 16 que toda criança tem o direito de brincar e se desenvolver. Mas será que isso está garantido na prática?

Para Felipe Romano, o que mudou foi o acesso a bens materiais. Ele cresceu no Pedreira, periferia da Zona Sul de São Paulo, e cuidava da irmã menor para a mãe trabalhar. As brincadeiras aconteciam dentro de casa, na maioria das vezes, e só quando já eram maiores que a rua estava autorizada. Brinquedo em si não tinha.

Felipe Romano, pai de Agnes

“Quando você cria a brincadeira na sua cabeça, ela se torna legal porque é livre. O banco da praça era o dragão”, conta ele. Hoje pai da Agnes, de 05 anos, Felipe procura deixá-la livre para pensar e criar. A preferência é por brincadeiras ao ar livre, longe do celular.

O educador William da Silva, do projeto Menin@s da Billings, observa que mesmo com o avanço da internet em todas as classes sociais o encontro presencial proporcionado por brincadeiras antigas ainda gera transformações. Por isso, a organização promove uma série de atividades à beira da Represa Billings, como canoagem e construção de brinquedos.

Porém, se por um lado fica a nostalgia de um tempo em que a rua era território livre de descobertas, por outro há um freio colocado pela sensação de perigo.

Para Carmen Soares, atriz e educadora do Projeto RUAS, isso tem relação com o avanço da violência e a rotina mais estafante dos pais, que têm cada vez menos tempo para ficar com a família. “A gente sempre brincou na rua, onde todos tomavam conta. E hoje temos o cuidado mais centrado na família, sem esse apoio dos outros adultos”, conta ela.

O Projeto RUAS é uma ação do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente – CEDECA Interlagos que promove atividades de convivência e proteção em quebradas do Grajaú, Parelheiros e Marsilac. As atividades geralmente acontecem espaços abertos como ruas e praças, com objetivo de ressignificar esses lugares.

“Nós adultos precisamos entender que é preciso garantir esses espaços para que as crianças desenvolvam de forma completa”, explica Will Ferreira, educador do Projeto RUAS. “As crianças estão pelas ruas, com carro, moto, tráfico. As crianças estão pelas ruas brigando pelos seus espaços”, completa.

Mesmo com ameaças constantes, como os cortes em educação, cultura e assistência social, com os casos de violência sexual em tempos de perseguição ao que chamam de “ideologia de gênero” ou com a defesa do trabalho infantil pelo próprio Presidente da República, o recado deixado pelas crianças é um só: a brincadeira resiste!

Esta reportagem faz parte do projeto #NoCentroDaPauta, uma realização dos coletivos Alma Preta, Casa no Meio do Mundo, Desenrola e Não me Enrola, Imargem, Historiorama, Periferia em Movimento, TV Grajaú, Dicampana e Nós, Mulheres da Periferia, com patrocínio da Fundação Tide Setúbal.

2 Comentários

  1. […] iria atirar para matar – e a gente sabe que quem morre é preto e pobre na quebrada”, questiona Will Ferreira, educador social do Projeto RUAS e morador de Parelheiros, também no Extremo Sul de São […]

  2. […] “Ei, seu ex-nenê. A conversa é com você”. No instagram, no facebook e principalmente no whatsapp, chega aquela mensagem direcionada a quem também já foi uma criança pequena. […]

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