No bairro das mães solo, Marina Amparo adotou 58 crianças para dar uma família a elas
Mulher negra, Marina Amparo é questionada por quem se surpreende ao vê-la como quem empodera outras pessoas
Contra o racismo e na certeza de que está lutando pela existência de outras crianças negras e pobres como ela já foi, seu trabalho é erguer cada indivíduo, a família e toda a comunidade ao seu redor
Ela cresceu no Jardim Sabiá, bairro do Extremo Sul de São Paulo que nasceu com a doação de terras para mais de 50 mães solo e suas crianças
E nesse pedaço de chão na periferia paulistana, construiu uma grande família com 58 filhos
Ela própria filha de mãe solo, Marina nasceu em 1966 no Amparo Maternal (daí, seu sobrenome “Amparo”). A maternidade foi fundada em 1939 pela madre franciscana Marie Dominieuc
O objetivo era prestar assistência a mães solo – geralmente, mulheres pobres e negras abandonadas por suas famílias em uma época em que a gravidez fora do casamento era rotulada de “prostituição”
Na década de 1960, a madre Dominieuc conseguiu a doação de mais de 50 lotes de terra para construção de moradias para essas famílias formadas por mulheres e crianças. Assim nasceu o Jardim Sabiá
Criada por muitas mulheres que construíram esse bairro, Marina frequentou o convento. Inspirada na atuação de Dominieuc, decidiu dar continuidade a esse trabalho com o marido Lucio
Fundaram o Lar Casa do Caminho, em que passaram 58 filhos e filhas - não é um abrigo comum, e sim uma família. O casal ainda mantém a guarda judicial de muitos com menos de 18 anos
Mais do que acolher, o objetivo é dar base para construção de um futuro melhor para seus filhos. Por isso, Marina articula com escolas, creches e até trabalho
Eu não tive família. Sou fruto do abandono. Então quero dar a eles uma família, para que eles saibam de onde vieram”
Texto e imagens Thiago BorgesDesign Rafael CristianoIdealização, pesquisa e reportagem Lucimeire Juventino