#NossoBonde: “Sou otimista por conhecer a nossa força enquanto povo periférico”

#NossoBonde: “Sou otimista por conhecer a nossa força enquanto povo periférico”

Cristiane Rosa é uma mulher negra e periférica do Grajaú na luta em diversas frentes. E, apesar da situação desesperadora, ela vê caminhos para resistência

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Cristiane Rosa é uma mulher com múltiplas habilidades e trajetória diversificada. E por isso, tem um olhar amplo sobre os últimos 10 anos e os que estão por vir. Negra e periférica, essa mulher de 38 anos é mãe solo da Duda e vive no Grajaú, Extremo Sul de São Paulo, onde é doula, atriz, produtora cultural, educadora e atualmente técnica social do Projeto Ruas no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente – CEDECA Interlagos.

A Cris, como a gente chama, faz parte do #NossoBonde – e, por isso, tá nessa série que a Periferia em Movimento publica todas as segundas-feiras de 2019. Neste ano em que completamos uma década de jornalismo de quebrada, convidamos moradoras e moradores das quebradas que nos ajudaram a refletir sobre a realidade na perspectiva periférica ao longo desse período – e, também, pra saber como imaginam os próximos 10 anos.

Idealizadoras do projeto Eu Quero Ouvir Maria: Mariana, Cris Rosa, ambas mãe solo e Duda (filha da Cris)

Nesse tempo, ela nota um avanço em direitos e possibilidades. “Nós, pessoas pertencentes a grupos minoritários em direitos passamos a exercer mais autonomia de vida, a ter acessos a novos lugares, a ter oportunidades, a fazer parte das políticas de ações afirmativas”, diz ela, que agora resiste para não dar nenhum passo atrás.

Isso porque esses avanços também trouxeram consequências violentas para quem está na trincheira de uma sociedade conservadora e preconceituosa, que mais mata pessoas LGBTQI+ no mundo, em que um jovem negro é morto a cada 23 minutos e o percentual de mulheres negras assassinadas é cada vez mais alto – ao mesmo tempo em que o fundamentalismo religioso ganha cada vez mais espaço nas quebradas.

Aqui no Grajaú é assim: a gente melhora e piora, ri e chora, avança e retrocede, uma dicotomia sem fim
…Tem artista se dedicando
As vielas estão coloridas
E os manos seguem cantando
Aqui no Grajaú é assim
A gente não anda na Belmira Marim
É muito morro atrás dos muros
Mas sabe que não é o fim
É só um pedaço esquecido por alguém
E na curva mais gelada de Sampa
A neblina esconde o dia seguinte dos migrantes
Mas a comunidade se vira…

Trecho de poesia que ela escreveu em 2010

As perspectivas de futuro são desesperadoras para Cris. Com o congelamento de gastos públicos federais por 20 anos, cortes nas esferas estadual e municipal, sucateamento dos serviços públicos, a sensação é de que muita luta precisa ser travada.

“Mas embora eu seja realista diante dessa situação, também sou otimista por conhecer a nossa força enquanto povo periférico”, conta.

No trabalho diário com adolescentes e jovens, ou nas rodas de discussão entre mulheres, a esperança de Cris se renova ao perceber o interesse de muitos em continuar na defesa de uma sociedade menos desigual – com jovens negros e a comunidade LGBTQI+ vivos e livres, com pais assumindo sua paternidade com afeto e responsabilidade, e com mães livres para serem mais mulheres.

“Minhas perspectivas positivas são poucas, mas me alimento de sonhos. Estes sim me fazem erguida e disposta à luta”, conclui.

Abaixo, entrevista que fizemos com ela em 2017 sobre o projeto “Eu quero ouvir Maria: Retratos de uma maternidade solo”:

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