Mulheres periféricas lançam manifesto pelo fim da violência de gênero

Mulheres periféricas lançam manifesto pelo fim da violência de gênero

Uma articulação entre 18 iniciativas lideradas por mulheres periféricas, entre coletivos e organizações, lança nesta quinta-feira (03/10) um manifesto pelo fim da violência de gênero. A Periferia em Movimento também assina a carta.

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Uma articulação entre 18 iniciativas lideradas por mulheres periféricas, entre coletivos e organizações, lança nesta quinta-feira (03/10) um manifesto pelo fim da violência contra a mulher. A Periferia em Movimento também assina a carta.

A decisão foi tomada na última segunda-feira (30/09), após assembleia realizada pela Escola Feminista Abya Yala – um espaço de estudo e cuidado pensado para mulheres da Zona Sul de São Paulo.

“Na última reunião da escola, a gente recebeu a notícia de violência contra uma de nossas companheiras”, conta Helena Silvestre, idealizadora do espaço. “Também recebemos notícia de que uma professora foi estuprada no estacionamento da escola em que dá aula”, completa.

Assembleia da Abya Yala (foto: Andrea Arruda)

A Abya Yala reúne mães, donas de casa, professoras, artistas, artesãs, entre outras mulheres que são politicamente ativas em seus territórios – justamente, lugares com maior concentração de mulheres pobres, negras, indígenas, afroindígenas e que também registra altos índices de violência.

“Tiramos uma série de medidas para proteger as companheiras que estão sendo violentadas e, por isso, fizemos um manifesto coletivamente construído para nos posicionarmos”, explica Helena.

“Vamos expor para o mundo toda vez que uma companheira for agredida. Não vamos mais apanhar caladas”.

Leia o manifesto abaixo

Nós, da Escola Feminista Abya Yala, nos reunimos numa assembleia de mulheres, depois de mais um caso de violência contra uma de nós, em nossa região, lugar que concentra números alarmantes de Feminicídio e violações de direitos de todo tipo contra mulheres.

A dor que engolimos há tanto tempo fez engasgar o choro em nossas vozes cortadas, dizendo que já não aguentamos mais e que isso precisa parar porque nós somos aquelas que suportam o peso do mundo e já não conseguimos respirar.

Temos sofrido violências há tempo demais e depois de partilhar o nosso sofrimento comum, nós enxergamos essa mesma violência em ataques brutais ao direito aos nossos corpos, o direito à nossas decisões, o direito à maternidade e à infância.

Essa sociedade que suga a seiva de mulheres pobres, como nós, moradoras de periferias, está a nos matar de muitas maneiras. A Reforma da previdência implica que sustentaremos como cuidadoras, também aos idosos que não aguentarem as exigências de produtividade da roda gigante do capital.

O ataque à educação destrói, ao mesmo tempo, gerações inteiras de jovens e sobrecarrega ainda mais os corpos das mulheres pobres e trabalhadoras como nós. Compartilhamos da preocupação urgente em defender nossa universidade pública, tão censurada e depredada pelo governo mas atentamos, como mulheres de periferia, para o processo de privatização da educação infantil.

Muitas gerações tem a vida em risco. A privatização das creches, a possível entrega deste serviço a entes privados e organizações sociais de cunho religioso abre as comportas do horror com a doutrinação de crianças antes de chegarem aos 6 anos de idade. Essa será a única modalidade de educação infantil disponível às mães pobres que precisam trabalhar em empregos ultraprecarizados para sobreviver.

Essa perspectiva parece casar muito bem com a militarização das escolas e com o encarceramento de jovens negros e pobres, já que de alguma forma estarão, gerações inteiras, atrás de grades e sob o disciplinamento mais brutal e violento.

A depredação das tarefas de cuidar – que injustamente recai sobre nossas costas – vai aumentar o peso que suportamos e ao mesmo tempo, desvaloriza profissionais que são, em sua maioria mulheres. As mulheres trabalhadoras da educação infantil, fundamental e do ensino médio tem sido alvo de violência permanente. A desvalorização de seu trabalho parece legitimar a que alguém acredite poder violentar sexualmente uma professora, no estacionamento da escola em que trabalha, como aconteceu esta semana na cidade de São Paulo..

Mas esse é o momento mais extremo, porque elas convivem diariamente com assédios, com violência física e psicológica, com a desmoralização e desvalorização por parte inclusive de colegas homens, ou de gestores homens.

Nossa posição é total intransigência a qualquer forma de violência contra as mulheres em suas diversas formas de expressão.

O Brasil ocupa o 5ª. lugar no ranking dos países com os maiores índices de violência contra as mulheres. De acordo com o Mapa da Violência 2015 – Homicídios de Mulheres no Brasil (WAISELFISZ, 2015), mulheres jovens, pobres e negras são as vítimas prioritárias.

Esse indicador é alarmante, mas deixa ver que a política de genocídio de nosso povo e de extermínio de nossas forças se dá também através das violências que acontecem dentro de casa, através das mortes geralmente praticadas por parceiros íntimos e pessoas próximas; revela a persistência de uma violência contra nós por sermos mulheres.

O controle do corpo feminino e das mulheres tem alicerce no patriarcado, no capitalismo e no racismo, e dá base para desigualdades, hierarquias e privilégios que destroem as mulheres assim como a todo nosso povo.

Nós não aceitaremos mais.

Nós não suportamos mais.

Nós nos reunimos entre nós para defender a vida, para nos defendermos juntas, para cuidarmos umas das outras, para defender a infância, a liberdade de corpos e pensamentos.

Se estamos na base deste sistema, que fica de pé pisando sobre corpos de mulheres pobres no mundo todo, talvez possamos mudar as coisas se nos movermos, e nós decidimos nos mover.

Não vamos nos calar e nem toleraremos qualquer tipo de justificação teórica e ou psicológica que justifiquem qualquer das várias formas de violência contra as mulheres.

Assembléia Feminista Abya Yala – Pindorama, 30 de Setembro de 2019

Assinam este manifesto:

Escola Feminista Abya Yala

Revista Amazonas

Núcleo Pele

Sexualidade Aflorada

A Bordar Espaço Terapêutico

T.ar Raizes

Periferia em Movimento

Horta di Gueto

Escritureiras

Perifeminas

Coletiva Cendira

Aondê Natural

NEARMEPOT (Núcleo de Estudos Autônomo sobre a Racionalidade Médica dos Povos Originários e Tradicionais)

AMESOL- Associação de Mulheres da Economia Solidária

Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres do Butantã

Revista Sampa Mundi

Equipe de Produção da FELIZS – Feira Literária da Zona Sul

Mulheres Unidas SP – Regional Centro Sul

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